BARATAS
Estava calmamente lendo o jornal, recostado na minha poltrona preferida, quando tive a atenção chamada por uma barata que passeava serelepe beirando a parede da sala.
Pelo seu porte observei que era uma jovem barata. Alternava as antenas como se estivesse estudando o ambiente ou me desafiando.
Por um instante fiquei a olhar aquele ortóptero onívoro, estranhando a sua invasão àquela hora do dia, pois se trata de um inseto de hábitos noturno.
Desconfiei que a famigerada barata notou que estava sendo observada e assim resolveu a se exibir locomovendo-se por todo recinto, sem a menor cerimônia.
Subitamente a minha filha entrou na sala e ao se deparar com a arrogante figura foi tomada de pavor e pôs-se a gritar e a gesticular nervosamente.
O desvario foi tanto que bateu com o cotovelo na parede e como consequência sofreu uma fratura.
A baratinha diante de tanto escarceu saiu de fininho sem ser notada.
A barata é a mais lídima das aquisições democráticas do mundo. Quase toda a casa a possui.
É habitual dos buracos de rodapés, cantos de estantes, fundos de arquivos e de gavetas.
Elas têm hábitos próprios interessantíssimos com os quais me familiarizei nos meus longos anos de pertinaz contato com arcanos e alfarrábios
Assim como nós, elas também ficam bem animadas com o calor. Aproveitam à aceleração de seus processos bioquímicos para se reproduzirem mais rápido e, claro, para passearem livremente por todos os cômodos de nossas casas.
Não adianta nada sua cozinha estar limpa, sem nenhum vestígio de gordura ou resto de comida. Se ela oferecer abrigos seguros, como buracos no meio dos azulejos ou a umidade aconchegante no fundo escuro do gabinete da pia, é lá mesmo que a atrevida irá se instalar com toda a família.
Falta de comida não é problema para ela, pois, consegue sobreviver durante um mês sem se alimentar, sete dias sem beber água e, quando a fome aperta, pode se satisfazer comendo fezes, parentes mortos e até vivos.
A barata é uma das criaturas mais antigas do planeta.
As estimativas de sua idade evolutiva variam de 400 a 300 milhões de anos - são anteriores aos dinossauros, que surgiram entre 230 e 215 milhões de anos.
Durante todo esse tempo, ela manteve preservadas características biológicas primitivas muito eficientes, que lhe permitiram sobreviver às profundas modificações ambientais ocorridas no planeta nesse período.
É essa capacidade de se adaptar a qualquer tipo de ambiente que faz dela uma forte candidata a sobreviver a uma hecatombe nuclear.
Como são animais noturnos, as baratas possuem maior quantidade de células do tipo bastonete nos olhos, o que permite que elas enxerguem mesmo com pouca luminosidade.
Suas antenas servem como sensores olfativos, táteis e gustativos.
Você já notou que seu design é equivalente à blindagem dos tanques de guerra, pois, a sua estrutura protege todo o seu corpo.
Elas possuem nas patas articulações e pêlos sensíveis às menores variações ambientais, que servem como uma espécie de alarme.
Essas características dão à barata velocidade e flexibilidade necessárias para fugir dos predadores em 40 milésimos de segundo.
Sua audição (localizada nas juntas) é tão sensível que ela pode detectar tremores de terra ínfimos como 0,07 grau na escala Richter (que vai de 0 a 10).
Algumas espécies possuem adesivos no meio das unhas das patas traseiras, que lhes permitem andar por superfícies extremamente lisas, como o vidro.
Quando dormem (sim, elas também dormem), expelem substâncias para atrair o maior número de baratas para perto delas, pois desse modo aumentam a probabilidade de que alguma delas detecte a aproximação de um predador.
A barata é um dos insetos preferidos para testar limites do corpo. Ela foi usada nos experimentos que definiram as doses seguras de radiação e os limites de gravidade suportados pelos astronautas.
Enquanto um ser humano agüenta 12 vezes a força da gravidade na Terra (seus órgãos entram em colapso com uma força gravitacional 18 vezes maior), as baratas suportam até 126 vezes.
Em relação à radiação, enquanto o limite para os humanos é de 600 rad, as baratas sobrevivem a doses por volta de 3.200 rads.
O tempo de vida de uma barata adulta é de aproximadamente seis meses; simplificando, a barata é mais resistente do que o homem, e quase imortal.
Deus nos acuda!