UM REGIME PARA O TEXTO
Gostaria de escrever um texto que tivesse um peso harmonioso. Fosse uma das certinhas do Estanislau. Que tudo se equilibrasse. Fosse uma síntese de tudo que aspiro, de tudo que concebo.
Obviamente, para começar, o rosto deve ser lindo, belos olhos, cabelos longos, nariz acertado, iluminado sorriso. Já imagino o rosto de Monalisa para o meu texto. Exatamente! Tenho certeza de que sairá puro, simples como Maria. O corpo não será da Vênus de Milo: grossas pernas, grande busto, aquele mulherão. Sei que não será assim. Silhueta esbelta, um manequim, pouco busto, aquele vulto transparente, um pouco mulher, energia de homem... Um ser indefinido?!
Será, assim, meu texto?! Para consegui-lo preciso disciplina. Não se consegue um modelo sem grandes sacrifícios.
Devo renunciar um pouco aos substantivos. Adjetivos engordam. E, como!!! Verbos, devo usá-los, pois dão força, energia. São as calorias. Preciso ficar atenta para não abusar. Sei que, apesar da dieta e ficar de olho na balança, a cabeça também influi. E muito!
Se escrevo, acreditando que não vai ficar feio, que não vai engordar, dosando o vocabulário (Detesto comidas requintadas: caviar, escargot, trufa, pratos com muita pimenta e forte sabor.), só poderá sair do meu gosto, do meu tamanho.
Prefiro as comidas simples: saladas, arroz com feijão, batata frita, um peixe de suave tempero. Gosto de comer à francesa; degustar, separadamente, cada sabor, para aproveitar melhor as nuances do tempero e paladar.
Assim seria meu texto: uma mulher modelo, vestida com bom gosto e simplicidade, de modo que, ao terminá-lo, já estaria com saudades e pensando: - Bom mesmo é emagrecer os textos para sair o manequim ideado pela fantasia do autor. Mas... para emagrecer haja regime!