PESCARIA DO AMOR OU DE PALAVRAS?
Eles estavam velhos, muito velhos. Ele oitenta e ela setenta e sete. Estavam casados há mais de cinqüenta anos, mas eram felizes. Ainda rolava muito amor. Sentados na sala de televisão assistiam ao Jornal Nacional e, depois, à novela das nove... Nesse capítulo havia uma lua de mel, num quarto em Copacabana. A cena estava linda! Muito bem feita. Não apelaram para a pornografia. A artista, uma jovem negra de encher os olhos, usava sedutora camisola. Ele, um rapagão bem branquelo, enrolado no lençol. Não havia nudez explícita. Beijavam, rolavam na cama, com amor e empolgação.
De repente, a velha começou a rir. – Marido, já pensou nós dois numa cama dessas?! Não dá mais, né?! Seria assim: - Ai, meu joelho! Não deita encima de mim que não agüento! Ai, minha perna, ai, ai, ai...
Ele, muito sério, não fez o menor comentário. Ela, ainda rindo, falou: - Mas, um banho de banheira, a dois, até que dá! Há quanto tempo! Lembra como era gostoso?! Encher bem a banheira, jogar pétalas de rosas, bolinhas de perfume... Os olhos dele brilharam. - Isso até que eu topo. Levantaram-se e foram para o banho de banheira. Brincaram, fizeram todo o ritual e, relaxados, lembraram os velhos tempos... Saíram felizes e renovados. - Agora, amor, vamos para um jogo de palavras que vi numa revista. Você faz a pergunta e eu respondo.
Ele – Qual isca você usaria para fisgar um grande peixe-palavra?
Ela – Uma loura bem torneada, lambuzada de mel.
Ele – Qual a palavra-peixe você pescaria?
Ela – A palavra homem-de-verdade.
Ele – Qual o tempero para o peixe-palavra?
Ela – Pitadas de ternura, carinho, beijos, mordidinhas na orelha e gotas de “La Vie en Rose”.
Ele – Quem você convidaria para a peixada?
Ela – Ninguém! Esta peixada seria só para mim e ele. Ou melhor, convidaria sonhos, desejos, gotas de criatividade e, uma luz que se apaga.
Ele – Beberiam o quê?
Ela – Os segredos da noite, um cálice de paixão e o amanhecer da lua.
Ele – E a sobremesa?
Ela – Um prato de suspiros recheados com “ais”, um bolo de segredos e a maçã do amor.
Ele – Um tanto embevecido, sorrindo e surpreso com as resposta da mulher encerrou:
- Você, hoje, está demais!