Poderia Ter Feito Mais
Recebi sua história num arquivo power point, por e-mail. Detesto este tipo de aquivo meloso, com montes de imagens lindas e dispensáveis, assim como a musiquinha que torna o e-mail pesado e a rede lenta. Ainda por cima, as animações que fazem com que o texto passe, devagarinho, dígito por dígito... É de enlouquecer!!
Mas, como a pessoa que me mandou é daquelas bastante conscienciosas e, conhecendo minha antipatia por esse tipo de mensagem, só envia aquelas que realmente fazem a diferença, resolvi conferir. Mesmo assim, no meio de tanto lixo, textos atribuídos aos autores errados, lendas virtuais e outras mentiras, claro que não podia acreditar em uma biografia tão incrível. Difícil acreditar que um ser humano tão extraordinário ainda não tenha preenchido as telas dos nossos cinemas, não tenha inspirado grandes best sellers. Mas, pesquisei e lá estava ela. Seu nome é Irena Sendler. Desde 1999, é aclamada como heroína da Segunda Grande Guerra Mundial, graças ao trabalho de pesquisa de um grupo de estudantes sobre os heróis do Holocausto. Atribuem-lhe a vida de duas mil e quinhentas crianças judias. Muito mais do que fez Schindler, famoso por causa do lindo filme de Spielberg, ganhador de sete Oscars em 1993. Porém sua façanha ficou circunscrita a seu país até porque, o comunismo seguiu-se aos horrores da Guerra, mantendo-a longe dos livros de história.
Quando os nazistas invadiram a Polônia, Irena tinha 29 anos e era assistente social na Varsóvia, cidade que concentrava 12% da população judia do país. Trabalhando com famílias judias pobres, ao ver a situação precária a que eram submetidos os moradores no gueto criado pelos alemães, mesmo conhecendo os riscos a que se sujeitava, dava sempre um jeitinho de fornecer-lhes agasalhos, comida e remédios. Dois anos mais tarde, junta-se ao Zegota, um movimento de resistência e ajuda aos judeus. Aproveitando-se do medo que os invasores tinham em lidar com o surto de tifo que assolava o local e, por isso, permitiam que os próprios polacos fizessem o controle sanitário, ela retirava as crianças usando de todos os meios possíveis, inclusive cestos de roupa ou esquifes, e as entregava a famílias católicas e conventos para que cuidassem delas. Usando o codinome "Jolanta", ela tinha um trabalho árduo ao tentar convencer as famílias para que aceitassem separar-se de seus filhos e netos. Não podia lhes garantir a vida dos pequenos pois até a sua retirada do gueto era arriscada, mas insistia quantas vezes fosse necessário, argumentando que, embora não houvesse garantia de vida na sua retirada, sua permanência era a garantia de morte. Em algumas ocasiões durante esse processo, acontecia de não mais encontrá-los, levados todos aos campos de extermínio. O desespero causado por esses fracassos dava-lhe ainda mais forças para continuar sua luta. Conquistando ajudantes em cada um dos dez Centros do Departamento de Bem Estar Social, elaborava documentos falsos, dando uma nova identidade aos meninos judeus. Para poder devolvê-los às suas famílias ao final da guerra, ela mantinha seus registros em potes de mantimentos, enterrados sob uma árvore de maçã, no quintal de um vizinho. Quando a guerra acabou, ela desenterrou seus registros, devolvendo as crianças aos parentes espalhados por toda a Europa. Em muitos casos, os pequeninos não tinham mais ninguém, toda a família vitimada pelos Campos da Morte e eram, então, encaminhados para orfanatos e, aos poucos foram sendo enviados para a Palestina.
Essa polonesa enfrentou a Gestapo e pagou um alto preço por isso. Foi presa e torturada, tendo sua morte decretada na prisão. Temendo que os registros das crianças viessem a se perder, os membros do Zegota subornaram os carrascos que se encarregariam de sua execução. Embora carregando seqüelas e passando todo o restante de sua vida presa a uma cadeira de rodas, Irena, agora com uma falsa identidade e dada como morta, continuou sua missão.
Anos mais tarde, quando sua foto apareceu em um jornal, algumas das crianças salvas a reconheceram e foram ter com ela, para agradecer-lhe.
Em 1965 foi homenageada com o título de Justa Entre as Nações pela organização Yad Vashem e tornou-se cidadã honorária de Israel.
Em 1979, Jolanta deu de presente ao papa João Paulo II uma imagem de Jesus Cristo que havia encontrado no colchão de sua cela no período em que esteve presa e que teria sido seu esteio durante os momentos de sofrimento porque passou.
O presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski concedeu-lhe em 2003 a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca.
Ela foi homenageada outras vezes, sendo inclusive indicada ao prêmio Nobel da Paz. Na cerimônia de indicação, em 2007, ela encontrava-se muito debilitada e foi representada por uma das crianças que salvara sessenta e cinco anos antes. Na ocasião, a grata sobrevivente leu algumas palavras de Irena: "Convoco todas as pessoas generosas ao amor, à tolerância e à paz, não somente em tempos de guerra, mas também em tempos de paz".
Irena morreu em maio de 2008, aos 97 anos de idade e nunca considerou-se uma heroína. Atribuía a seu pai o seu desprendimento, pois com ele aprendera a ajudar a quem quer que fosse, sem preocupar-se com sua fé ou cidadania.
Ao invés de vangloriar-se de suas ações, repetia sempre:
“Poderia ter feito mais. Este lamento me acompanhará até o dia de minha morte!”
Depois de conhecer tão inacreditável criatura, como ficar tranqüila, sabendo que, embora não haja uma guerra à minha volta, as crianças continuam condenadas e precisando tanto de ajuda? Como pensar serem suficientes a doação mensal a uma creche em Planaltina, o trabalho voluntário na Proanima e algumas poucas caridades assistencialistas aqui e ali?
O mundo precisa de Jolantas. Não me iludo: jamais serei uma delas. Mas, de agora em diante, pretendo fazer mais. Muito mais.
Tradução do cartoon:
Menina: - Tenho que lhe dizer uuma coisa, senhor... Tem no seu braço uma tatuagem sem graça nenhuma. É só um montão de números.
Senhor: - Bem, teria a tua idade quando ma fizeram. Mantenho-a como uma recordação.
Menina: - Oh!... Uma recordação de dias mais felizes?
Senhor: - Não, de um tempo em que o mundo ficou louco… Imagína-te a ti mesma num país em que os teus compatriotas seguem a voz de um político extremista que não gostava da tua religião. Imagína que te tiravam tudo, que enviavam toda a tua família para um campo de concentração, para trabalhar como escravos, e a ser sistematicamente assassinados. Nesse sítio tiravam-te até o teu nome para ser substituído por um número tatuado no teu braço. Chamou-se a isso O Holocausto, quando milhões de pessoas foram mortas só pelas sua crenças religiosas...
Menina: - Então tu usas essa tatuagem para recordares o perigo das políticas extremistas!
Senhor: - Não, querida. É para que tu o recordes.
Recebi sua história num arquivo power point, por e-mail. Detesto este tipo de aquivo meloso, com montes de imagens lindas e dispensáveis, assim como a musiquinha que torna o e-mail pesado e a rede lenta. Ainda por cima, as animações que fazem com que o texto passe, devagarinho, dígito por dígito... É de enlouquecer!!
Mas, como a pessoa que me mandou é daquelas bastante conscienciosas e, conhecendo minha antipatia por esse tipo de mensagem, só envia aquelas que realmente fazem a diferença, resolvi conferir. Mesmo assim, no meio de tanto lixo, textos atribuídos aos autores errados, lendas virtuais e outras mentiras, claro que não podia acreditar em uma biografia tão incrível. Difícil acreditar que um ser humano tão extraordinário ainda não tenha preenchido as telas dos nossos cinemas, não tenha inspirado grandes best sellers. Mas, pesquisei e lá estava ela. Seu nome é Irena Sendler. Desde 1999, é aclamada como heroína da Segunda Grande Guerra Mundial, graças ao trabalho de pesquisa de um grupo de estudantes sobre os heróis do Holocausto. Atribuem-lhe a vida de duas mil e quinhentas crianças judias. Muito mais do que fez Schindler, famoso por causa do lindo filme de Spielberg, ganhador de sete Oscars em 1993. Porém sua façanha ficou circunscrita a seu país até porque, o comunismo seguiu-se aos horrores da Guerra, mantendo-a longe dos livros de história.
Quando os nazistas invadiram a Polônia, Irena tinha 29 anos e era assistente social na Varsóvia, cidade que concentrava 12% da população judia do país. Trabalhando com famílias judias pobres, ao ver a situação precária a que eram submetidos os moradores no gueto criado pelos alemães, mesmo conhecendo os riscos a que se sujeitava, dava sempre um jeitinho de fornecer-lhes agasalhos, comida e remédios. Dois anos mais tarde, junta-se ao Zegota, um movimento de resistência e ajuda aos judeus. Aproveitando-se do medo que os invasores tinham em lidar com o surto de tifo que assolava o local e, por isso, permitiam que os próprios polacos fizessem o controle sanitário, ela retirava as crianças usando de todos os meios possíveis, inclusive cestos de roupa ou esquifes, e as entregava a famílias católicas e conventos para que cuidassem delas. Usando o codinome "Jolanta", ela tinha um trabalho árduo ao tentar convencer as famílias para que aceitassem separar-se de seus filhos e netos. Não podia lhes garantir a vida dos pequenos pois até a sua retirada do gueto era arriscada, mas insistia quantas vezes fosse necessário, argumentando que, embora não houvesse garantia de vida na sua retirada, sua permanência era a garantia de morte. Em algumas ocasiões durante esse processo, acontecia de não mais encontrá-los, levados todos aos campos de extermínio. O desespero causado por esses fracassos dava-lhe ainda mais forças para continuar sua luta. Conquistando ajudantes em cada um dos dez Centros do Departamento de Bem Estar Social, elaborava documentos falsos, dando uma nova identidade aos meninos judeus. Para poder devolvê-los às suas famílias ao final da guerra, ela mantinha seus registros em potes de mantimentos, enterrados sob uma árvore de maçã, no quintal de um vizinho. Quando a guerra acabou, ela desenterrou seus registros, devolvendo as crianças aos parentes espalhados por toda a Europa. Em muitos casos, os pequeninos não tinham mais ninguém, toda a família vitimada pelos Campos da Morte e eram, então, encaminhados para orfanatos e, aos poucos foram sendo enviados para a Palestina.
Essa polonesa enfrentou a Gestapo e pagou um alto preço por isso. Foi presa e torturada, tendo sua morte decretada na prisão. Temendo que os registros das crianças viessem a se perder, os membros do Zegota subornaram os carrascos que se encarregariam de sua execução. Embora carregando seqüelas e passando todo o restante de sua vida presa a uma cadeira de rodas, Irena, agora com uma falsa identidade e dada como morta, continuou sua missão.
Anos mais tarde, quando sua foto apareceu em um jornal, algumas das crianças salvas a reconheceram e foram ter com ela, para agradecer-lhe.
Em 1965 foi homenageada com o título de Justa Entre as Nações pela organização Yad Vashem e tornou-se cidadã honorária de Israel.
Em 1979, Jolanta deu de presente ao papa João Paulo II uma imagem de Jesus Cristo que havia encontrado no colchão de sua cela no período em que esteve presa e que teria sido seu esteio durante os momentos de sofrimento porque passou.
O presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski concedeu-lhe em 2003 a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca.
Ela foi homenageada outras vezes, sendo inclusive indicada ao prêmio Nobel da Paz. Na cerimônia de indicação, em 2007, ela encontrava-se muito debilitada e foi representada por uma das crianças que salvara sessenta e cinco anos antes. Na ocasião, a grata sobrevivente leu algumas palavras de Irena: "Convoco todas as pessoas generosas ao amor, à tolerância e à paz, não somente em tempos de guerra, mas também em tempos de paz".
Irena morreu em maio de 2008, aos 97 anos de idade e nunca considerou-se uma heroína. Atribuía a seu pai o seu desprendimento, pois com ele aprendera a ajudar a quem quer que fosse, sem preocupar-se com sua fé ou cidadania.
Ao invés de vangloriar-se de suas ações, repetia sempre:
“Poderia ter feito mais. Este lamento me acompanhará até o dia de minha morte!”
Depois de conhecer tão inacreditável criatura, como ficar tranqüila, sabendo que, embora não haja uma guerra à minha volta, as crianças continuam condenadas e precisando tanto de ajuda? Como pensar serem suficientes a doação mensal a uma creche em Planaltina, o trabalho voluntário na Proanima e algumas poucas caridades assistencialistas aqui e ali?
O mundo precisa de Jolantas. Não me iludo: jamais serei uma delas. Mas, de agora em diante, pretendo fazer mais. Muito mais.
Tradução do cartoon:
Menina: - Tenho que lhe dizer uuma coisa, senhor... Tem no seu braço uma tatuagem sem graça nenhuma. É só um montão de números.
Senhor: - Bem, teria a tua idade quando ma fizeram. Mantenho-a como uma recordação.
Menina: - Oh!... Uma recordação de dias mais felizes?
Senhor: - Não, de um tempo em que o mundo ficou louco… Imagína-te a ti mesma num país em que os teus compatriotas seguem a voz de um político extremista que não gostava da tua religião. Imagína que te tiravam tudo, que enviavam toda a tua família para um campo de concentração, para trabalhar como escravos, e a ser sistematicamente assassinados. Nesse sítio tiravam-te até o teu nome para ser substituído por um número tatuado no teu braço. Chamou-se a isso O Holocausto, quando milhões de pessoas foram mortas só pelas sua crenças religiosas...
Menina: - Então tu usas essa tatuagem para recordares o perigo das políticas extremistas!
Senhor: - Não, querida. É para que tu o recordes.