INSTRUMENTANDO A DESUNIÃO

Separação litigiosa e separação amigável. Qual a diferença?

Não há diferença. Ambas são litigiosas. A separação em si é um litígio e mesmo que ela se diga amigável, uma das partes é motivada por coerção. Na separação dita amigável, presume-se que não é litigiosa porque a outra parte não é forçada pela força judicial a aceitar. Todavia, se aceita de bom grado é porque não tem escolha, tendo em vista que se não aceitar será forçada por uma força muito mais brutal que a sua, muito mais impessoal e muito mais devastadora, haja vista a venda nos olhos da estátua da Justiça.

Quando alguém por sua força tenta manter a posse do que entende ser seu ou posicionamento que entende legítimo, talvez negando um reclame de outro, que entende não ser justo, a força arbitral aparece para garantir que aquele que parece que está por baixo passe a ficar por cima e aquele que parece ser oprimido passe a oprimir. A força arbitral empresta uma força gigantesca ao fraco, ou o que se faz de fraco, não considerando se o que um fará contra seu oponente é justo ou injusto, se a força que exercerá sobre ele é necessária ou exagerada, apenas se pela lei ele é enquadrado ou não.

A lei fria e interpretável tem sido o padrão de escolha entre o certo e o errado, entre o direito e o o torto, entre o justo e injusto da força arbitral. O tempo em que o bom-senso e o humanismo determinavam esses fatores vai muito distante. E pessoas que se dizem de bem têm maltratado seres humanos para defender a lei, quando deveria ser o contrário, alei defender os seres humanos.

A intenção original da força arbitral fora equiparar as forças entre as partes, cobrando forças a quem não a possui. Entretanto, o que se vê é essa força tornando-se uma indústria da qual valem-se os covarde, os que não têm humildade, os que não querem ouvir as razões dos outros, falar, entrar em acordo, expor, ponderar e considerar o direito do outro em oposição ao seu. Em geral, essas pessoas não são as fracas, mas as que têm abusado dos outros, explorado sua mão de obra e fraqueza, fazendo valer a sua vontade à força. Em geral, eles se baseiam na lei para tirar daquele que não tem, para negar aquilo que é devido e ainda punir a quem eles lesam. Em regra, se valem da lei para resolver assuntos de “quebra de braço”, onde a teimosia leva os indivíduos a extremos na ância sega de provar ao outro que é melhor que ele. Este foi um caso muito noticiado, onde um ancião de mais de oitenta anos conheceu o recalque de uma juíza de quarenta, a qual o esmagou com a força paquidérmica da Justiça pondo-o na cadeia por sua teimosia em conservar um costume mais antigo do que ela – pôr suas vacas a pastar num campo, onde atualmente cruza uma estrada. Para tal injustiça, ela usou como basea apenas a lei, que não é porca, como dizem, mas também não produz a justiça quandonão é aplicada com bom-senso, respeito e compaixão.

Em regra, a força arbitral tornou-se instrumento de retaliação, demonstração e abuso de poder e vingança. Por um lado, seus agentes usam-na para sufocar seus oponentes, obrigar a reverência das pessoas comuns e provar a si mesmos que são algo, quando, na maioria das vezes, são vazios de habilidade inerentes. E a maioria das pessoas comuns não estão dispostas a submeterem-se umas às outras, então usam a abismal força arbitral para medir forças e mostrar à outra quem pode mais. Por qualquer motivo estão se processando e muitas vezes logrando grandes fortunas com isto.

As pessoas tornam-se sempre mais cínicas, por isto buscam tanto a força da Justiça. Não tem mais coragem para olhar uns nos olhos dos outros, enfrentar seus olhares perscrutos, ouvir e dizer a verdade, revelando o que pensam e desejam. Vão a juízo cobrar com agravo o que nem tentaram de forma amigável. Por outro lado, muitas pessoas não têm humildade para reconhecer que erram e devem, principalmente retroceder do erro. Tornaram-se todos traidores. Então vão para os tribunais dizer na frente de estranhos o que deveriam ter dito entre pessoas conhecidas e amigas, tendo se compreendido mutuamente e produzido amizade, cooperação e harmonia.

Em geral os psicólogos e juízes dizem o que as pessoas já sabem, dando os mesmos conselhos que suas mentes, seus, parentes, amigos e vizinhos já lhes deram, mas eles não quiseram seguir, porque seguem obstinadas em cumprir unicamente os seus propósitos, mesmo que sabendo que estão no caminho da injustiça. Assim a sociedade alimenta uma falange de salários opulentos, que dizem manter a harmonia dessa sociedade, mas sequer conseguem harmonizar suas famílias, sendo que não querem mesmo harmonizar a sociedade, pelo que pensam que ficariam desempregados. Apenas caem sobre essa sociedade acomodada como elefantes com a força do poder institucional, reprimindo-lhe qualquer iniciativa, tornando-a inapta.

Quanto mais juizes, tribunais, promotores, advogados e policiais, mais fragrante faz-se o atestado de desumanização da sociedade. A humanidade é muito demagógica, enganando-se que evolui. Isto é uma grande mentira, pois uma sociedade cujos membros não conseguem se compreender, tolerar e conviver é que precisa tanto de arbitragem. A arbitragem existe apenas onde não há entendimento, portanto sua presença é sinal de retrocesso e confusão. E eles, os homens e mulheres que mandam, que legislam, que executam, que fazem juízo e operam os mercados mentem, pois eles é que mais instigam a desarmonia entre os seres humanos, dizendo que eles não devem tentar se entender, apenas denunciar, denunciar e denunciar, para garantir-lhes esses salários astronômicos por trabalho nada produtivo.

Os sistemas policial e judicial nada mais são do que os sinais vergonhosos de uma sociedade irreversivelmente decadente. Essas pessoas se julgam a solução para a sociedade, por isto agem de forma tão arrogante e prepotente, abusando do poder que a sociedade por delegação lhes concede, mas esses funcionários a serviço dela, a quem eles não respeitam e a quem não servem de boa vontade, não são mais do que o aviso que essa sociedade declina em alta velocidade para o caos e que quanto mais eles atuam mais aceleram o processo degenerativo.

Assim, o mundo é uma rede de seres humanos querendo submeter uns aos outros. Uns têm poder institucionalizado, o qual usam com intensidade e brutalidade. Outros se outorgam a si mesmos o poder e outros há que acham uma forma aparentemente amigável de exercer seu poder opressor sobre os outros, como é o caso do esporte e das separações amigáveis. Se uma partida de futebol não fosse motivada pelo desejo de mostrar um ao outro quem é o melhor, não haveria necessidade de arbitragem. Em geral, há arbitragem, não só do juiz no campo, mas da força bestial da polícia a fim de conter a força da massa irracional em fúria.

Então. É essa a humanidade que eles dizem que evolui e é esse tipo de sistema ao qual somos obrigados a chamar de Pátria, só porque não podemos escolher o sistema do nosso Paíz, porque ele já tinha seus donos bem abusados quando nascemos e esses donos seguem nos esmagando com a força covarde das leis criadas para cuidar dos seus interesses.

Wilson Amaral