A longa espera do medo

No confronto entre sair ou ficar, fugir ou se manter preso, crescer ou estagnar, envelhecer ou não vivenciar, partir ou não voltar, viver intensamente ou apenas não morrer nunca – a demora indecisa desperta os piores temores e as melhores fantasias infantis.

A jornada tem início com o passo rumo ao desconhecido. O desconhecido, esse monstrengo moldado pelo medo, essa sombra esquisita e irreal. Curiosamente a armadilha do monstro não afasta, chama. O monstruoso também atrai. Impensáveis fantasmas ganham vida, como num sonho aberto aos olhos. O sonho não é pesadelo porque não é puro susto: contornos bizarros, aos poucos, viram contornos comuns, coerentes com o território a ser desbravado – se antes inconcebível, logo antecipado pela nova respiração.

Na terra da fantasia, o chamado à sobrevivência é igualmente potente. A intuição criativa da imaginação navega nas águas do instinto. E se depara com a inevitabilidade da luta. Luta, aqui, não tão violenta quanto lúdica. Na suspensão espacial do sonho, o risco é um salto seguro, mesmo de altitude insabida. Para o virtual corpo onírico, a luta inevitável se adéqua ao desejo profundo de seguir lutando.

O confronto de todos os medos impõe ao desejo profundo, em seguida, um outro desejo: o de ir além, superar caminhos trilhados, transpor barreiras carcomidas e alterar o horizonte interno com uma nova visão defronte. Como o desejo, mais ou menos amedrontado, dos momentos de passagem – dos movimentos de mudança.

O ideário da mudança é a mesma biblioteca simbólica do movimento, cheia de túneis e pontes, paralisia e velocidade. Para sair da longa espera do medo, a fantasia dá vez ao mundo simples que se pôs de cabeça para baixo. Depois que tudo se explica em exagero sob a vigência do medo, o percurso da espera é desfeito. Afinal, simplificar é a função do susto.

Toda criança madura sabe disso – mas nem toda criança medrosa amadurece.

Fábio Lucas
Enviado por Fábio Lucas em 31/08/2008
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