A PROPÓSITO

A propósito, de minha garganta jamais sairá um grito retumbante, por mais adversa que me seja a situação, no máximo chuto umas pedrinhas, machuco o pé, não solto um palavrão, posso fazer uma careta, dou um tapinha no machucado e vou enfrente. Uma coisa eu sei fazer: virar às costas e o faço sem olhar pra trás, não quero que aconteça comigo o mesmo que aconteceu com a mulher do Ló: transformar-me numa estátua de sal.

Sentimentos os tenho dentro de mim e sou pródiga em doá-los sem contudo esperar recompensa, nem a de Deus, pois acredito que se deve amá-Lo por amá-Lo e no dia que eu conseguir tal, por certo serei “salva”.

Amo pessoas indistintamente e desdobro-me em lhes ser agradável, nem sempre consigo, isso me faz infeliz na maioria das vezes, então me pergunto: por quê? E me vem à mente a célebre frase: onde foi que eu errei? Sempre me sinto culpada.

Falei para uma amiga querida, que estava tentando escrever uma crônica um tanto pra baixo e ela me disse: “ se comporte, ouviu?” aí eu respondi: “certo, te amo, beijo”. De fato, amo os meus amigos e os tenho bastante e sei que sou amada por eles, só que hoje amanhecei sem vontade de mandar “flores para o delegado, nem de bater na porta do vizinho para lhe desejar bom dia nem tampouco de beijar o português da padaria”, E sei lá eu por quê!

Sabe de uma coisa? Vou acabar com esta lengalenga valendo-me de Clarice Lispector, que deixou dito: “Vez por outra me vejo na captura de mim mesma / e quem sabe tentando / desmascarar sob o verniz do cotidiano um mundo de desejos e fantasias inconfessáveis”

Mas não se preocupe o que perde tempo me lendo, com certeza, amanhã estarei melhor, afinal é outro dia.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 31/08/2008
Reeditado em 31/08/2008
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