APENAS UMA PEDRA



            Afinal, devem pensar os poucos que me lêem, como alguém pode incluir as pedras entre os seres vivos. Então eu lhes pergunto: -O que são seres mortos? Eu não classificaria a pedra como um ser animado; ela não o é. Então imagino a definição escolar de “nascem, crescem, reproduzem-se e morrem.” Não é muito difícil constatar tal afirmação no reino animal ou no vegetal, dado o seu ciclo de vida (em decurso de tempo) ser mais próximo do nosso. Pedras levam milhares, milhões de anos para formar-se. Ora, o que sabemos a respeito delas sobre nascer, reproduzir-se (o que é reproduzir; cristalização e o crescimento em cristais, de forma ordenada, não é uma forma de reprodução?) e finalmente morrer... Não temos distanciamento (novamente no tempo) suficiente para saber de tal coisa. Estudos, pesquisas... A ciência sabe de todas as verdades? Não é tudo matéria, tudo composto de átomos, tudo resultado de uma origem comum? Existe a Fonte Única que plasmou o existente do inexistente...

            Fico revoltada quando vejo alguém chutando uma pedra, quebrando uma pedra inutilmente. A beleza das pedras é ímpar. Nós não sabemos o que pode haver dentro de um pedregulho qualquer, que observamos com desdém. Toda pedra é única e a relação do homem com as pedras é imemorial. Haja vista a classificação das idades. As pedras sintéticas, tais como as zircônias, são todas iguais; são os clones do reino mineral. Refletindo sobre a questão: -foi aí que começou a clonagem! Mas, quando se observa uma pedra natural, lembro-me do que aprendi com meu pai que fazia lapidação como hobby e, também, da época em que eu mesma comprava as pedras em lotes e depois fazia a classificação, descobre-se que não há duas iguais... A composição de pares é aproximada, há nuances de cintilação, de profundidade da cor, de transparência, revelados pelo artista que as dá à luz, e cada uma delas é absolutamente, incomparavelmente única, como qualquer vegetal ou animal. O reino mineral é tão nobre quanto os outros o são.

            Ouso imaginar que o Criador estará melhor cercado, em Sua Glória, por belíssimos exemplares do Reino Mineral, enquanto os seres humanos continuarem agredindo seres de todos os reinos nesta nossa Terra, habitada por uma humanidade que se crê superior, mas não passa em sua grande maioria, de uma turba desorientada.