A CULPA É DO RADAR!
Astrogildo era daqueles homens sisudos, não abria mão das suas convicções nem com “reza braba”. Morando com a família numa cidadezinha pacata, os moradores tinham por ele uma deferência sem igual. Respeitavam-no, ou melhor, tinham mesmo era medo dele! Esta a verdade! Porque, o homem era um “poço de ignorância, que só!”. Mas, por outro lado, um excelente profissional. Pontual, dedicado e exclusivo benfeitor.
Como balconista “batia um bolão”. Mesmo carrancudo atendia a todos de forma indistinta e de vez em quando puxava uma prosa ora com um, ora com outro. Astrogildo era motorista, mas detestava “guiar”, isto porque tinha sido vítima de um acidente há uns quinze anos atrás.
Todavia, o patrão tinha uma necessidade urgente e resolveu se valer do Astrogildo. Sua sogra vivia doente e morava na cidade próxima, a uns vinte quilômetros e este precisava levar a tal encomenda “urgente”. Apenas um “tantinho” como se diz aqui em Minas. Doze quilômetros de asfalto e o restante de terra.
O patrão pensa e resolve chamar o empregado, com um tom de voz autoritário, para que ele não tivesse como negar-lhe o pedido.
___Astrogildo! Venha aqui agora, pois preciso de um favor!
O empregado desconfiado dirigiu-se até o patrão e num tom de voz rouca, balbuciou:
___Que foi patrão, “sangria desatada” esta?
___Pegue o meu carro na garagem! Preciso que me leve prá Dona Almerinda no Curral Novo os remédios controlados dela, a “veia” é dura, não morre nem com...
Nem terminou de falar, Astrogildo de imediato esboçou uma reação contrária.
___De jeito nenhum, o senhor sabe que não dirijo mais, depois daquele desastre. Tô “tromatizado”!
___Ora, Astrogildo é por uma boa causa, senão o “pau quebra” lá em casa. Sabe como é Matilde, né?...
Depois do efusivo diálogo, o patrão “passou mel na boca do homem” e a muito custo o mesmo resolveu pegar a estrada. Estava preocupado, nunca havia na vida “guiado” no asfalto, só na terra bruta da qual entendia e muito bem.
Mas era chegada hora. Astrogildo, o “barbeiro” saiu da terra e passou a andar no “tapete azul”, de início a quarenta por hora, depois resolveu pisar o pé. Afinal o trem era "bão" e demais! O velocímetro dava cabo de uns cento e trinta ou mais.
Nisto havia uma patrulha que estava fazendo a tal “blitzen” na estrada e havia colocado atrás de um matagal um radar, Instrumento de alerta aos mais afoitos.
E Astrogildo muito animado e galante motorista a cento e quarenta nem sabia o que o aguardava pela frente. Passou como vento pelos guardas que imediatamente pegaram o carro e com a sirene aberta iniciaram uma perseguição implacável. Astrogildo nem aí, nunca tinha dirigido no asfalto.
Os homens da lei alcançaram-no e fizeram-no parar no acostamento. Os dois guardas já com a mão no “coldre”, vá lá que o homem estivesse armado... Desceram do carro e iniciaram o questionamento:
___O cidadão vem de onde e está indo prá onde nessa velocidade toda? Posso saber?
___Moço, eu tô indo na casa da sogra do patrão aqui pertinho, vou entrar logo ali, por quê?
___Ora, o cidadão não viu o velocímetro? Estava a uns cento e quarenta por hora, onde o limite é oitenta, tá ficando doido?
___Como é que é? Num tô sabendo disso não? E como você pode me acusar, “cê” nem me viu?
___Cidadão temos um radar e ele acusou que o senhor ultrapassou em muito o limite de velocidade...
Astrogildo, um homem íntegro, trabalhador e sincero não se dava a esse desfrute e, por último já cansado que estava da acusação, indagou o guarda:
___Radar! Quem é esse Seu Radar! Pode chamar o “homi” que eu vou dizer umas poucas e boas pra ele. É prá deixar de ser “metido à besta”!
Pirapora/MG, 31 de agosto de 2008.