CRÔNICA DE UMA VIAGEM - VIII

Fomos os últimos a ser deixados à porta do hotel. O microônibus circulou por algumas ruas de Gramado para deixar os outros em suas respectivas hospedarias e o deslumbre tomava conta de nós. Corríamos os olhos para lá e para cá, recordávamos esquinas, prédios, jarros com flores nas calçadas, os bancos de madeira a céu aberto, os termômetros distribuídos nos pontos principais, as lojas elegantes e, finalmente, o belvedere sobre o Vale do Quilombo, à direita. À esquerda, a Aldeia de Papai Noel lá no alto da serra, imponente com suas àrvores folhudas e verdejantes. À primeira vista tudo como antes, mas ao mesmo tempo tudo também renovado, mais alegre e realçante. Naquele preciso momento vimos o quanto valia a pena voltar novamente ali.

Preenchidos os formulários, bagagem levada pelo carregador e, até que enfim, instalados no apartamento, só tivemos tempo para um banho reconfortante e mudança de roupa. Como o hotel fica a poucos passos do centro fomos caminhando sob as luzes dos postes, sacando do arquivo das lembranças pontos de referência já vistos e guardados na memória, permitindo o fluir da emoção à medida que avistávamos uma multidão de gramadenses e turistas nas imediações da Rua Coberta, que fica em frente ao Palácio dos Festivais onde se realizaria toda a programação do 36º Festival de Cinema de Gramado. O povo respirava aquele ar cinematográfico típico de Hollywood enquanto esperava o início da festa, agitando-se em ansiedade. Um imenso tapete vermelho crescia do começo da Rua Coberta até o Palácio dos Festivais, majestoso e belo em sua imponência. Por ali desfilariam estrelas e astros para receber as homenagens dos promotores do evento e a ovação do público presente.

A abertura ocorreu com algum atraso, coisa de brasileiro mesmo. O prefeito da cidade, organizadores, autoridades diversas começaram a chegar vindo sobre o tapete vermelho. Houve uma verdadeira explosão de aplausos e gritos quando o principal convidado do Festival, Renato Aragão, pisou o tapete vermelho acompanhado da filha, que agora também é atriz, e da esposa. Todos queriam fotografá-lo, chegar perto dele, apertar-lhe a mão, falar com ele. Em meio ao ruge-ruge frenético da turba alvoroçada ouvi um garoto choramingando com uma máquina fotográfica na mão e dizendo, desolado: "Didi, venha aqui, se você não vier eu deixo de assistir ao seu programa!" Renato Aragão, é óbvio, não ouviu o dramático apelo daquele garoto, que repetia a frase chorando e procurando o melhor ângulo para fotografar seu ídolo cercado de guarda-costas, jornalistas e fans. Não conseguiu.

Durante mais de duas horas atores e atrizes deram o ar de sua graça pelo tapete vermelho, sob as palmas dos espectadores. Os flashs espocavam, repórteres de diversas revistas, jornais e tvs nacionais disputavam a atenção dos atores, meninotas se esgoelavam chamando os astros jovens, e estes, sorridentes, acenavam e mandavam beijinhos à platéia. A disputa pelo oscar brasileiro tinha início. Não chovia na ocasião, o que é raro nesse período, mas a temperatura estava em três graus positivos.
A cerimônia de abertura começou depois das vinte e duas horas. Renato Aragão foi o homenageado especial e recebeu o Kikito pelo conjunto de sua obra e por sua contribuição ao cinema nacional.
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/08/2008
Reeditado em 05/09/2008
Código do texto: T1153174
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