SE É PRA CONTAR...
Como já dizia não sei quem, “todo finito é espelho do infinito”. Cáspite! Quem disse que neste mar de rosas em que vivo pede reflexões profundas, ou versos de Omar Khayan, quando diz:
Ah ! Se pudesse ser este mundo recriado
E se o escrivão mudasse o livro atroz do Fado
Para que então o nosso Nome fosse inscrito em
Folha menos negra ou fosse cancelado
Ou ainda poemas de Rilke, como este:
Quem nesta hora chora algures no mundo
Sem motivo chora no mundo
Chora por mim
Quem nesta hora ri algures na noite
Sem motivo ri-se na noite
Ri de mim
Quem nesta hora anda algures no mundo,
Sem motivo anda no mundo
Vem a mim
Quem nesta hora morre algures no mundo
Sem motivo morre no mundo
Olha pra mim
E pensar que tudo não passa de diferença de alma... No Ocidente, comenta Jamil Haddad, tira-se o chapéu em sinal de respeito; no Oriente, os sapatos; no Ocidente escreve da esquerda para a direita; no Oriente da direita para a esquerda; o muçulmano tem dificuldade em servi-se de nossas cadeiras; na igreja, o ocidental se ajoelha; na mesquita o islamita se prosterna.
Se hoje a vida pede canto, sejamos como os gondoleiros de Veneza: cantemos. Que se alivie pois, as dores cantando ou que se aumente a alegria cantando.
Cantar, não ouso, mas se é para contar, conto eu a fábula do Leão decepcionado de Loqman:
Um leão que o sol castigava foi procurar sombra na caverna. Mal se viu instalado ai, um lagarto trepou nele, fixando-se em seu dorso. O leão ergueu-se subitamente, olhou à direita e à esquerda, e, não vendo nada começou a dar sinais de pavor. Uma raposa que estava ao lado percebeu o que estava acontecendo pôr-se a rir. Então o leão disse: eu não tenho medo do lagarto, mas o que me enfada é a sua insolência e o pouco respeito que ele me tem.
Moral da história: às vezes o desprezo faz sofrer mais do que a própria morte...
Por hoje é só... E quem quiser que me decifre.