Eu sinto (medo)

Aqui estou eu, novamente perdida entre as linhas, não encontro o encaixe das palavras, elas saem sem sentido, com vontade própria. Hoje não consigo dominá-las, por mais força e concentração que eu faça, não consigo.

Queria ter autocontrole o suficiente para esvaziar minha mente, para não pensar nos meus problemas, para me livrar por um instante das preocupações, porque aí eu sei que as frases sairiam.

Mas ao contrário, minha inspiração está trancafiada no cantinho que o Medo a colocou, num canto frio e esquecido da minha mente. Ah esse Medo, como é audacioso, antes que eu o perceba, toma conta de tudo, ele bloqueia meus pensamentos e meus olhos só enxergam a ele e mais nada. Ele chega sorrateiramente, mas depois de bem acomodado, se faz notar de uma forma tão incisiva que não há como ignorá-lo, ou, se há alguma forma eu desconheço absolutamente. Talvez com o passar dos anos, a medida do meu amadurecimento eu consiga administrar melhor a nossa relação... Eu espero!

Travo batalhas incansáveis com ele, discutimos assuntos variados e ele sempre toca naqueles detalhes delicados, faz de propósito para me ver desabar. Discute comigo sobre meu mais novo amor, diz que é ilusão o que estou vivendo, eu tento rebater dizendo que eu sei o que estou fazendo, sei com quem estou lidando, mas ele ignora todas minhas justificativas, aliás, nem sei por que tenho que dar justificativas a ele, justo ele que me trata com tanto desdém e indiferença. Ataca meus mais novos projetos de vida, diz que não posso me arriscar a correr atrás desse meu sonho, pois já tentei uma vez e não deu certo. Ainda se faz de meu amigo, diz que sempre me alerta das tristezas que vou sentir, que já premedita todas as minhas lágrimas. Diz que não sei ao certo a importância dele na minha vida, que se ele me poupa das satisfações ilimitadas é para também me poupar das grandes quedas. Eu rebato dizendo que não quero viver dessa forma, que quero ir além da média e que ele não é bem vindo na minha mente e quero encerrar essa relação desgastante. Quando parece que estou ganhando forças nesta luta, ele começa o jogo baixo, desenterra lá do fundo do meu coração lembranças atormentadoras e me faz relembrar cada momento vivido, cada desilusão e decepção. Traz à tona cada nó na minha garganta, desfaz e refaz cada nó, um a um, lentamente. Aí, eu não consigo mais, não tenho mais convicção para falar, nem capacidade também, essa agonia vai tomando conta de mim, e eu realmente penso que a pessoa que tem sido especial não está sendo sincera comigo e então é melhor eu me afastar para me proteger, eu começo a concordar com a idéia de que não há motivos para que alguém me ame, fico achando que não adianta me iludir imaginando que vou ter prazer, que vou realizar meus sonhos...

Pronto, Medo, mais uma vez você ganhou de mim, se era essa a sua vontade – e eu sei que era - já pode ir embora e me deixar aqui com esse aperto no coração e essa dor de estômago que eu sempre sinto quando você decide me visitar.

Vai, pode ir! E não volte logo, não será necessário, as marcas dessa sua visita ficarão por um bom tempo, tempo o suficiente para que você seja lembrado e relembrado...