E se foi a brincadeira de roda!
E se foi a brincadeira de roda!
Nada mais de reunir amigos, jogar xadrez, dama, gamão, bilhar, pebolim, jogos de tabuleiro!
Nada de corre-cotia, pega-pega, esconde-esconde, pular corda, estátua, elefantinho colorido, pular elástico, apostar corrida.
Nada mais de ouvir aquelas músicas educativas, divertidas, que faziam nossa imaginação voar, em um "balão azul", pegando carona na "cauda de um cometa" para "ver a via láctea" ou "brincar de esconde-esconde numa nebulosa". Ou ainda querer saber da "estrela -guia, onde andaria" o "sonho encantado". Fada madrinha? Vara de Condão? "Esse meu coração, sonhando acordado". Que tolice a minha!
Nada de Cinderela, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Três Porquinhos, Bela Adormecida. A carruagem não segue mais viagem. Nem vejo mais o "trem da alegria" pedindo passagem, "na direção do amor que eu preciso, do meu paraíso, doce paisagem". Ele costumava nos "levar para um mundo de magia, onde a fantasia" entrava sempre na dança. "E quando o brilho do amor chegar, quero mais brincar, eu quero ser criança".
Peter Pan cresceu, acabou a Terra do Nunca, do faz-de-conta. A brincadeira agora é virtual, eletrônica, digital, sentado no sofá ou na cadeira em frente ao computador. Até brincar de salada mista é por comunicadores instantâneos. Os castelos de areia são construídos por máquinas, robôs e chips.
"Qualquer faz de conta, a gente apronta, é bom ser 'muleca' enquanto puder". "E tudo que é livre, é super incrível, tem cheiro de bala, capim e chulé". Não, a vida não é mais "doce mel, que escorre na boca feito doce" e parece um "pedaço do céu". O céu agora a gente vê por entre grades, a vários andares de altura. Acampar na sala? Contar histórias de terror em volta da fogueira? Dá trabalho, preguiça, todo mundo tá cansado, estressado. "Vai filho, vai jogar videogame e deixe-me trabalhar". "Em casa, papai?" "Sim, tenho muita coisa a fazer".
He-Man? She-Ra? Nossa Turma? Punk, a levada da breca? Ursinhos Gummy? Cavalo de Fogo? Quem são esses? Alguém sabe? Cantores de funk, pagode, forró, talvez? Desenhos japoneses? Animações 3-D? Novos jogos de computador ou video-game? "Num deu. Com licencinha". Infância? Mãe da rua? "Não filho, brinca aqui dentro, porque a rua é perigosa". Será que "um guardião vai surgir"? Com "a força e a coragem"? Todo mundo pergunta "ele nasceu para o bem?".
Ai, ai. Criança, infância. Ainda existe infância? Algum pai, mãe, menino ou menina "sabe o que quer?". Sim, é trabalhar, estudar e tecnologias que facilitem até o brincar. Alguém ainda lê história para os filhos? Eles sabem quem foram nossos heróis ou vilões? Nossos desenhos favoritos? Como e do que brincávamos?
Saudosos anos 80/90. Trem da Alegria, Turma do Balão Mágico, Atchim e Espirro. Alguém tinha o LP das Paquitas?
"É tão bom, bom bom bom. Quem quer pão, pão, pão. Bom estar contigo na televisão". Era tão bom mesmo!
Ainda tem só mais um pouco. "A gente já pulou, brincou, ficamos juntos dia a dia, a gente se multiplicou, e dividimos alegria". Nossas crianças sabem que já tivemos isso? "A gente sabe que viver, é muito mais que uma aventura, a gente sabe que vencer, é pra quem sonha e quem procura". Sim, a aventura de viver já foi mais divertida, colorida, sem estresse, trânsito, atrasos, correria.
"A gente brinca de esconder, nem sempre a gente faz de conta, um dia a gente vai crescer, do mundo a gente toma conta". Que mundo estamos tomando conta? Ai, ai. Basta olhar ao redor. Sim, a gente brinca de esconder a verdade, a realidade, o nosso lado criança que um dia fomos. E nem sempre dá pra fazer de conta que as contas existem, que o dinheiro é felicidade.
"A gente quer o azul do céu, e o sol brilhando com certeza. A gente quer da vida o mel, tão puro feito a natureza". É, um dia ele foi feito naturalmente, hoje ó céu é cinza poluído, e o mel é feito na fábrica.
Tudo é DVD, Blu-Ray, high performance, total definition, último conceito em tecnologia, processamento, leitura. Alta resolução!
É, já se foi a brincadeira de roda, o bambolê. E agora, eles não voltam mais. "Adeus, queridos, adeus". Um dia, poderemos ter essa alegria de volta, essas brincadeiras nas ruas, mais limpas, menos violentas. E teremos tempo para os amigos, para nós. Devia ter dado valor enquanto tive. Agora é apenas o "era uma vez, em terras distantes..."