Caymmi
no mar carioca
Salvador praticamente não tem estátuas de seus filhos ilustres erguidas em suas praças.
E é assim porque quer. Na história da Boa Terra existem inúmeros baianos, cujo passado recomenda pelo menos um busto em qualquer local de sua atraente capital.
Quando falo em filhos ilustres, me vem à lembrança os baianos que, de fato, ajudaram a construir a história do seu estado. Excluo, claro, dessa relação, os baianos de importância transitória; figuras de brilho aparente.
Não pensem os leitores, mormente os que conhecem Salvador, que, nesta conversa, esqueci do monumento a Castro Alves, na praça que leva o seu nome.
Como no desvairado carnaval de Salvador essa praça transforma-se num dos quartéis da folia, a estátua do maior vate baiano é, hoje, mundialmente conhecida.
(Oportuno recordar, que, certa ocasião, tentaram profaná-la, envolvendo-a em um colorido e espalhafatoso abadá. Felizmente, a - imperdoável! - irreverência não mais se repetiu.)
Esqueceram, por exemplo, de erguer, de preferência no coração de Salvador, uma estátua de Ruy Barbosa.
Ora, ninguém mais do que Ruy merece, nesta terra, uma estátua; um grandioso monumento. Sempre defendi esta tese.
Dirão: mas já há o Fórum com o nome do ilustre Jurista, guardando no seu subsolo seus restos mortais. Tudo bem. Poucos, porém, têm acesso ao Fórum. Dele, muitos querem é distância.
Na praça e pela praça todo mundo passa. Por ela transitam ricos e pobres, letrados e iletrados, estudantes e intelectuais, e também os analfabetos que terminam - "quem foi esse senhor?" - conhecendo a vida e a obra do seu mais ilustre conterrâneo.
*** *** ***
Mas todo essa papo surge a propósito do que acabo de ler em um jornal de Salvador. Diz o despacho, veiculado pela Agência O Globo: "Copacabana terá estátua do músico baiano." O músico baiano é o saudoso Dorival Caymmi.
A estátua será erguida no Posto Seis, "bem próxima à do poeta Carlos Drummond de Andrade". Na altura - completa a nota - "da colônia de pescadores Z-13".
Nada contra qualquer homenagem que se queira prestar a Caymmi; inclusive a que a Prefeitura do Rio de Janeiro deseja fazer.
Afinal, o Rio foi a cidade que o compositor baiano escolheu para morar, desde 1938. E no Rio morreu e foi enterrado.
Deixou muito cedo (com 23 anos) a sua encantadora Itapuã, trocando-a por Copacabana.
Não me consta, entretanto, tenha o compositor de A jangada voltou só cantado o mar carioca, como o fez, com tanto amor, com o mar da Bahia.
De qualquer sorte, homenagear o talento, a inteligência é sempre saudável; é sempre aconselhável; aqui e na Lapônia.
Salvador, agradecendo os dias que ele por aqui viveu, homenageou um carioca - Vinicius de Moraes - com uma estátua, tamanho natural, num dos locais mais belos da orla salvadorense.
O meu receio é que, um belo dia, a estátua de Caymmi amanheça sem o seu violão. Como vem acontecendo com os óculos de Drummond.
no mar carioca
Salvador praticamente não tem estátuas de seus filhos ilustres erguidas em suas praças.
E é assim porque quer. Na história da Boa Terra existem inúmeros baianos, cujo passado recomenda pelo menos um busto em qualquer local de sua atraente capital.
Quando falo em filhos ilustres, me vem à lembrança os baianos que, de fato, ajudaram a construir a história do seu estado. Excluo, claro, dessa relação, os baianos de importância transitória; figuras de brilho aparente.
Não pensem os leitores, mormente os que conhecem Salvador, que, nesta conversa, esqueci do monumento a Castro Alves, na praça que leva o seu nome.
Como no desvairado carnaval de Salvador essa praça transforma-se num dos quartéis da folia, a estátua do maior vate baiano é, hoje, mundialmente conhecida.
(Oportuno recordar, que, certa ocasião, tentaram profaná-la, envolvendo-a em um colorido e espalhafatoso abadá. Felizmente, a - imperdoável! - irreverência não mais se repetiu.)
Esqueceram, por exemplo, de erguer, de preferência no coração de Salvador, uma estátua de Ruy Barbosa.
Ora, ninguém mais do que Ruy merece, nesta terra, uma estátua; um grandioso monumento. Sempre defendi esta tese.
Dirão: mas já há o Fórum com o nome do ilustre Jurista, guardando no seu subsolo seus restos mortais. Tudo bem. Poucos, porém, têm acesso ao Fórum. Dele, muitos querem é distância.
Na praça e pela praça todo mundo passa. Por ela transitam ricos e pobres, letrados e iletrados, estudantes e intelectuais, e também os analfabetos que terminam - "quem foi esse senhor?" - conhecendo a vida e a obra do seu mais ilustre conterrâneo.
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Mas todo essa papo surge a propósito do que acabo de ler em um jornal de Salvador. Diz o despacho, veiculado pela Agência O Globo: "Copacabana terá estátua do músico baiano." O músico baiano é o saudoso Dorival Caymmi.
A estátua será erguida no Posto Seis, "bem próxima à do poeta Carlos Drummond de Andrade". Na altura - completa a nota - "da colônia de pescadores Z-13".
Nada contra qualquer homenagem que se queira prestar a Caymmi; inclusive a que a Prefeitura do Rio de Janeiro deseja fazer.
Afinal, o Rio foi a cidade que o compositor baiano escolheu para morar, desde 1938. E no Rio morreu e foi enterrado.
Deixou muito cedo (com 23 anos) a sua encantadora Itapuã, trocando-a por Copacabana.
Não me consta, entretanto, tenha o compositor de A jangada voltou só cantado o mar carioca, como o fez, com tanto amor, com o mar da Bahia.
De qualquer sorte, homenagear o talento, a inteligência é sempre saudável; é sempre aconselhável; aqui e na Lapônia.
Salvador, agradecendo os dias que ele por aqui viveu, homenageou um carioca - Vinicius de Moraes - com uma estátua, tamanho natural, num dos locais mais belos da orla salvadorense.
O meu receio é que, um belo dia, a estátua de Caymmi amanheça sem o seu violão. Como vem acontecendo com os óculos de Drummond.