PARA PARAR DE LER NA SEGUNDA LINHA.

PARA PARAR DE LER NA SEGUNDA LINHA.

Marília L. Paixão

Às vezes tenho os meus momentos em que não sei o que dizer, mas digo assim mesmo.

Quem morre falando não morre calado, isso é certo e serve para todas as instâncias. Fica este pensamento em homenagem à Rosa, mulher mais falante que eu já conheci e que sentou perto de mim ontem.

Essa foi minha primeira graça do dia vamos agora para a segunda:

Depois do segundo bebê nenhuma mulher pensa muito em querer um terceiro.

Este pensamento já deve ser um fato consumado pelas mulheres que fazem laqueadura.

Será como estou indo com a minha falta de assunto? Vou arriscar uma terceira tentativa:

Quem não tem o que fazer inventa umas coisas moles e outras duras! Será que estou esclerosando o melão ou é só uma veia de humor fora de lugar nesta manhã de sol de prata?

Pronto! Depois desta até os meus leitores mais simpáticos se perguntarão em que estado de devaneio eu não estaria ao iniciar este texto. Preocupados em saber eles continuarão a leitura. Pois qualquer outro seguiu meu conselho e parou de ler desde a segunda linha.

Para eles não se sentirem nem um pouquinho passados para trás como quem caiu numa cilada otária eu vou ligar para a escritora Zélia e pedir para ela dar uma mãozinha e incrementar este texto com algumas citações bem úteis. Quem sabe assim eles me perdoarão? Fiquem atentos que o telefone está tocando.

- Zélia?!

- Sim! - È a Marília. – Diga, lá! Que ventos a trazem?! Ela parecia alegrinha.

- Os ventos da total ignorância.

- Ah! Mas como isso foi lhe acontecer?!

- Não sei menina! Ontem quando fui dormir até que eu estava me sentindo inteligente, mas nesta manhã acordei toda burra.

- Meu Deus! Será que isso pega?!

– Não, Zélia, pode ficar tranqüila que isto não pega não.

– ah, bem! Eu a ouvi suspirar aliviada e em seguida me perguntou:

- Mas em que posso ajudá-la?!

- Por acaso você não está ai com algum livro de citações debaixo do braço?!

- Eu?! Não minha cara. Minhas citações eu não carrego feito bíblia, eu as tiro das terras altas.

- Pois é, Zélia! Eu estava aqui pensando se você não me mandaria uns pozinhos desta terra.

- Mas neste estado em que você falou que está, será que você ia saber usar?

- Bem, se eu não souber pelo menos eu me sujo um pouquinho.

- Mas isso não seria bom para o seu filme.

- Que filme Zélia?! Depois deste texto o melhor que eu posso fazer é sair de vez do ar.

- Calma, Marília, você ainda é uma das minhas preferidas.

- Mas e os outros?!

- Que outros Marília?! Se eu lhe passar alguma citação você só terá a mim. Citação não é feita sem arte e conhecimento prévio e hoje você mesma disse que não está nos seus melhores dias.

- Então não vou querer não! Acho que essa manhã não é ideal para eu ampliar meus conhecimentos apesar do meu ego continuar besta. Sem mais eu gosto mais de inventar coisas novas que citar coisas velhasjá que não tenho talento com elas e nem sabedoria prévia como você... Não vou me atrever!

- Sabe o que eu faria no seu lugar?!

– O quê?! Perguntei desanimada como um pequeno poste que se curva antes de cair sobre uma gigantesca árvore.

- Eu tomaria um banho naquela piscina de letras!

Um sorriso de sol parecia querer clarear meu horizonte. Ainda assim retruquei:

- Mas elas não estão lá, Zélia. Estão todas aqui e parecem bastante ocupadas ouvindo o nosso telefonema.

- Mas se você desligar elas correrão para a piscina e ficarão te esperando.

- Você acha mesmo, Zélia?!

- Certeza absoluta, Marília.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 29/08/2008
Reeditado em 31/08/2008
Código do texto: T1151326
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