Carreguparradim, moço!

Lá pelos idos dos anos 80, seu Luiz, meu saudoso pai, era proprietário de um bar e restaurante chiquérrimo na Vila Maria Baixa. Ali, bem pertinho da fábrica da Nadir Figueiredo.

O peéfe com bife à cavalo era o carro-chefe do menu. O aperitivo (Tatuzinho com limão) era grátis, pra conquistar o freguês.

Pessoas vinham de todas as partes do País para almoçar lá, principalmente pela comida bem servida e barata e também pela localização (a uma quadra da Marginal do Tietê) e pela facilidade de se estacionar caminhões e carretas nas proximidades.

Numa bela tarde de verão um destes profissionais do transporte rodoviário de cargas que vinha da Paraíba arrotava, palitando os dentes, com metade do umbigo na mesa, após degustar um picadão. Pediu a conta; meu pai foi à mesa levar a conta e o cafezinho de cortesia. O homem deu uma nota de dinheiro e perguntou:

- O Sr. tem carreguparradim aí, moço?

- Perdão... não entendi...

- Carreguparradim, carreguparradim, moço!

- Um instantinho só que eu vou ver - Meu pai queria ganhar tempo pra tentar descobrir que raio era aquilo. Ficou matutando, enrolou um pouco, passou o pano no balcão. Desistiu. Voltou à mesa para levar o troco e falou pro homem:

- Olha, o Sr. desculpe, mas não temos não.

O homem terminou o cafezinho e foi saindo. Passou pelo caixa, pelo balcão e já estava quase na porta quando voltou repentinamente:

- Ó, seu moço, o Sr num tava mangando cumigu não, né?

- Não, claro que não, por quê?

- É por causa de que eu tô vendo que o Sr. tem carreguparradim aí e num quis me vender.

- Sinto muito, é porque eu não tinha ouvido direito o que o Sr. pediu.

- Pois então me dê logo.

- Hum... Não estou encontrando... - E ficou abrindo gavetas e mexendo nas prateleiras do caixa. O homem deu uma risada e falou:

- Ôxi! Pois as bichinha tão bem aí na sua frente moço! - Enfiou a mão por dentro do caixa e pegou um pacotinho de pilhas Eveready. Era o carrego pro radinho dele.

- Tá vendo, moço? Carreguparradim. Quanto é?