Xeque Mate
Final da tarde de sábado, chuva caindo e um trânsito terrível, como não poderia deixar de ser. Entretanto, isso não importava muito para eles que pretendiam passar um tempo juntos, aquele tempo esperado e desejado reciprocamente.
Eles seguem em direção ao motel. Gustavo comentou sobre os vidros que começavam a embaçar. Mas o que eles queriam mesmo era passar um tempo namorando com tranquilidade.
A chuva começa a ficar mais forte e o trânsito mais lento. Providência imediata: passar um pano nos vidros embaçados. Ela o ajuda revesando a tarefa, mas pensa: “Não está resolvendo muito, mas tudo bem, vou agir como co-piloto em dia de trilha. Só que este pano não ajuda, logo tudo fica embaçado outra vez...”
De repente ele dispara: - Nunca mais eu compro um carro sem ar-condicionado. A diferença era tão pouca! Com ar-condicionado não iria embaçar os vidros, sabia? – e olha pra ela.
- Eu ouvi um motorista dizer que passar sabonete no pára-brisa evita que ele embace. Aí, outro contou que passar cinza de cigarro também funciona. No seu caso, meu amor, melhor passar sabonete, né? Ou, então, um bom produto limpa-vidros.
- Sabonete, cigarro? Que idéia! Sabonete molhado ou seco? Eu, heim... Vou limpar com limpa-vidros, pode deixar.
- Sim, faça isso! Motoristas de ônibus e caminhão nem sempre têm um limpa-vidros na cabine, eles se viram com o que têm. – respondeu Virgínia. Calando-se pensou: “Eu também preciso limpar os vidros do meu carro. É muito ruim dirigir sem nitidez.”
Apesar de um pouco tenso com o trânsito, Gustavo estava carinhoso como sempre. Assim eles seguiam adiante. Mas em um certo trecho o trânsito fica mais lento e ele solta um suspiro como quem não está gostando. Ela põe a mão na perna dele e tranquilamente diz: - Meu amor, está tudo bem. Eu estou aqui, viu? Ele olha rápido para ela e sorri.
Finalmente eles chegam. Ambientando-se ele regula as luzes, abre um vinho e acaricia o rosto de sua amada que manhosa já está deitada na cama sorrindo pra ele.
Durante um bom tempo eles conversam. Gustavo particularmente falante, conta histórias antigas e outras atuais. Virgínia, acariciando seu peito, acompanha tudo com atenção.
Após algum tempo de conversa ele solta: - É tão bom ser feliz!
O tempo passa. Eles se amam com aquela sintonia peculiar de um casal cheio de desejo. Entre beijos e abraços apertados nem se preocupam se ainda chove ou não. Quem se importa? O que eles querem mesmo é curtir um ao outro e o fazem intensamente.
Hora de ir embora. Já no carro ele troca o cd, escolhe uma música e fala pra ela ouvir com atenção.
"Decorei o que eu vim te dizer
só te olhar já me faz esquecer
Um "xadrez racional" eu montei
mas sua rainha é o xeque-mate pro meu rei
O silêncio parece entender
o que os olhos não querem calar
Coisa linda
Renasci por te encontrar
Coisa lin...da
Meu dilema é te amar
Sê bem-vin....da
A vida que eu sonhei, você pode me dar
Eu vim pra me render e te levar
Destinos já traçados podem se mudar
Se o fruto do pecado for amar
Argumentos começam ruir
armadilha que eu mesmo caí
Coisa linda
Renasci por te encontrar
Coisa linda
Meu dilema é te amar
Se bem-vinda"
Ele, olhando nos olhos dela, fala:
- Esta música é apropriada para este momento que estamos vivendo.
Atenta à letra da música e com o coração batendo diferente, Virgínia segura o rosto de Gustavo com as mãos e o beija.
Paira no ar a sensação de viver o momento sem se preocupar em quanto tempo tudo isso pode durar...