MÁSCARAS
Aplausos! O artista agradece a presença de todos no espetáculo. Sai o personagem, tira-se a máscara e surge finalmente o ator, mas onde o publico vê um rosto, há ainda uma outra máscara – qual será a sua verdadeira face?
Carnaval de Veneza, 2005. Auri e eu caminhamos pela Praça de São Marcos. Escrevo palavras refletidas pelo ar, ela rouba imagens com a sua câmera fotográfica. É uma festa à fantasia; um baile de mascarados, em uma Itália com orgulho de suas tradições medievais.
Espetáculos e teatro ao ar livre; nem preciso falar italiano para ser envolvido nesse show de sorrisos e movimentos que encantam e prendem a nossa atenção. Auri está fascinada, tira foto de todas as fantasias, é o seu primeiro baile de máscaras. Difícil mesmo é dizer qual delas é a mais bonita, todas são diferentes e magníficas.
Compramos as nossas fantasias, “na Itália, faça como os italianos” e vamos para as ruas, exibir nossa outra face. Nesse momento, me dou conta que já uso uma máscara: estou fantasiado de estrangeiro, tenho máscara de latino, de brasileiro (por vezes sou indiano, por vezes também sou africano). Auri me pergunta se há algo errado com a minha fantasia, respondo que não; e quem responde é outra face, outra máscara e vou assim mergulhando profundamente em meu inconsciente, despindo-me máscara por máscara; algumas me dão arrepio, outras muito me orgulham; algumas me dão alegria, outras tantas mal reconheço; algumas foram impostas, outras eu mesmo criei; e vou prosseguindo nessa jornada que parece infinita para dentro de mim mesmo.
Feito cebola, vou retirando cada camada, até que surge a mais estranha surpresa: quando finalmente estou despido de todas as máscaras e me preparo para encarar o meu eu verdadeiro; vejo no meu próprio rosto, a face de todas as outras pessoas espalhadas por esse mundo inteiro.
SOMOS TODOS UM SÓ
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