O CRIME COMPENSA? 2 PESOS E 2 MEDIDAS
A operação da Polícia Federal que prendeu o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, e o empresário Naji Nahas recebeu o nome de Satyagraha em alusão à história política da Índia.
Satyagraha é um termo usado por Mahatma Gandhi durante campanha pela independência do país. O termo Satya, em sânscrito, significa "verdade", e agraha é "firmeza". Satyagraha seria, então, a "firmeza na verdade", ou a "firmeza da verdade", uma forma não-violenta de protesto.
Gandhi foi um influente defensor do princípio de não-agressão e da forma não violenta de protesto. A teoria da Satyagraha também influenciou Martin Luther King Jr. durante sua luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e Nelson Mandela.
Pois bem, voltando a prisão dos magnatas, ficamos estupefatos com a decisão do ministro Gilmar Mendes que em menos de 48 horas, concedeu dois habeas corpus sucessivos ao senhor Daniel Dantas.
Sobre Daniel Dantas pesam acusações das mais diversas falcatruas e bandidagem, de acordo com relatório da Polícia Federal (PF), resultante de investigações durante cerca de quatro anos,
A polêmica decisão do ministro em conceder os dois habeas corpus ao senhor Dantas, rapidamente inflamou diversas instâncias do Judiciário, transformando o que poderia ser (e de fato o é) uma polêmica jurídica.
A crise deflagrada expõe as vísceras do Judiciário.
Os brasileiros comuns estão boquiabertos com a soltura dos magnatas e se sentem angustiados com a sensação de que respeitar a lei é coisa de otário e, sobretudo, a certeza de que as cadeias do país não aceitam hospedar quadrilheiros ricaços, com dinheiro de sobra para contratar advogados eficientes e amigos influentes ao alcance do celular.
Sabem que o castigo dos ricos jamais vai além das prisões espetacularizadas.
Por outro lado, Angélica Aparecida de Souza Teodoro, 18 anos, mãe de um filho de 2 anos e que estudou apenas o ensino fundamental, viveu o inferno.
Trabalha como empregada doméstica, mas encontrava-se desempregada ao ser presa, em novembro, dentro de um mercadinho do Jardim dos Ipês, na capital paulista, acusada de roubar uma lata de manteiga marca Aviação, de 200 gramas, no valor de R$ 3.10.
Levada para a 59ª Distrito Policial, conhecido como Cadeião de Pinheiros, recebeu voz de prisão do delegado Marco Aurélio Bolzoni.
Por subtrair mercadoria no valor de R$ 3.10, Angélica passou na prisão o Natal, o ano-novo e o carnaval, pois o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao analiasar o pedido de defesa da doméstica, o indeferiu.
Angélica foi solta em 23 de março, mais de quatro meses depois, graças a liminar do ministro Paulo Gallotati do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
O Brasil e sua Justiça parecem postos de cabeça para baixo. Há uma inversão total de valores e critérios.
Será que o crime compensa?