Ecologia e Delírio (4)

Conversando com um amigo, ele me desafiou: - você que gosta de falar sobre Ecologia? Que vive por aí, com seus pequenos amigos, querendo salvar umas árvores, uns banhados, animais... Quero ver se consegue falar sobre delírios? – Eu acredito que precisamos assumir nossos delírios - continuou ele.

Ecologia e Delírio? Aí me dei conta, “delirante” seria um termo justo para um grupo de pessoas, sendo a maioria crianças, recolhendo lixo em uns “riozinhos ou córregos, no município em que vivemos. Sábados ensolarados, enquanto muitos passeiam... A flora e a fauna, principalmente os seres alados, parecem fazer festa para os visitantes. E lá estão “Os amigos do Curupira”, amigos da natureza, às vezes sujos e molhados. Recolhem os restos dos que não sabem o que é viver, trabalhar e divertir-se guardando dignidade diante de seu mundo, sua cidade, seu chão-natal.

Há tantas garrafas, os tais “pet” e uma imensidade de sacolas plásticas. Brinquedos, sapatos, roupas e tudo mais que possas imaginar.

Sabemos que nosso gesto é frágil diante de uma sociedade consumista e inconsciente de seus atos. Então esse gesto não é um delírio diante da enormidade do problema?

Sim, seria a resposta rápida. Mas que delírio bom, teimar em não desistir diante das dificuldades, diante da enormidade do fato: lixo, muito lixo e o que resta das florestas tombando diante de nossos olhos.

É preciso ter muito amor pelos seres do mundo, muito afeto pelo seu semelhante e muita esperança. É preciso ter coragem para assumir esse compromisso consigo mesmo e persistir além dos descrentes, além dos que mal-dizem sobre essa maneira de ser, de agir.

Há tão pouca vida livre, pulsando sem que a mão do homem não tenha interferido, desviando o curso natural das coisas.

Os “delirantes” não são contra o “progresso”, apenas desejam que tudo que brota da terra, todos que vivem nela ou sobre ela, sejam respeitados no direito de continuar existindo.

Para edificar a obra humana, em geral, isso significa desapropriar um pedaço de chão. Então que tal agregar a esta, pelo menos um pouquinho, os valores da natureza.

“Há tão pouca floresta sobre a Terra”. E o que resta, tombam em aniquilamentos, todos os dias. Parece que o homem nunca mais vai desaprender a voz do aço, que para nós, povos do “terceiro mundo”, tiveram inicio lá nos tais “descobrimentos”. O ser humano perdeu a capacidade de discernir, muitos acreditam que é loucura o desejo de preservação. Talvez não apreenderam, toda vida é finita.

Entre os meus amigos há pessoas que pintam, fazem poemas, contam histórias e cultivam flores em embalagens recolhidas nas matas e rios. Melhor dizendo, esculpem dignidade em suportes reciclados. E muitos deles ainda não viveram o tempo suficiente para ser ou pensar, o que significa “ser cidadão”, Ainda estão na fase de praticar a arte de ser menino. Então considero que são eles, os mais cidadãos e artista dessa cidade.

E para quem fica em casa pensando sobre estas iniciativas, ficam angustias, quem age não tem tempo para elas. Há tanta gente pensando, escrevendo sobre Educação Ambiental, Ecologia, tanto projeto no papel...

E o rio continua sufocado, a mata suja de pedaços de absurdos, plástico, plástico e...

Alguns ligam a televisão para se distrair, outros esquecem... Quem lembra que a vida é uma viagem, que a única paisagem que devemos levar ao partir, é a da memória.

Os bens dos quais desfrutamos, têm que continuar, nossos filhos vão continuar pisando essa mesma terra e tirando o alimento e o abrigo, dessa mãe-maior.

Temos que ser generosos para com os que virão depois de nós. Chegamos criança a esta planeta e, dentro da pouca compreensão que tenho das coisas do mundo (tamanha complexidade), penso que terei que continuar criança ao me despedir dele.

Ironia: tanta gente edificando sua “linda casa” em terra devastada, pois não sobrou nenhuma árvore nativa no terreno. Depois ansiando por beleza, faz seu jardim com “flores de plástico”.

Eu gosto de dar a meus pés, longas caminhadas, ao amanhecer ou no fim do dia. Passo por estes jardins artificiais, há cores, mas meus sentidos não reagem, não consigo colher aromas, não vejo insetos. Não acredito em ajardinamentos, onde todas as espécies típicas do lugar desapareceram.

Todos os seres que vem de outras terras, se não são apenas predadores, devem ser acolhidos, mas dizimar o legítimo dono do chão, além de crueldade, é pura inconsciência, assinatura de ignorância.

E eu? – Sou um ser de delírios e meus amigos deliram comigo...