Nunca diga Nunca.

Se tem uma palavra que para mim poderia ser excluída do Aurélio, seria o NUNCA. Como essa expressão pode existir, se, de fato, ela não existe, para mim, nem no passado, nem no presente?.

A vida é findável, esta é a única certeza que temos, por isto, tanto quanto o nunca, o pra sempre também não requer tanta credibilidade. Não se sabe ao certo de onde viemos, para onde vamos, mesmo que as suas ações sejam todas dignas de um bom cristão conduzidas no que diz a doutrina, o que certamente levará ao caminho do céu.

Para nós humanos, moradores desse mundo cada vez mais imprudente chamado terra, o céu ou o inferno é o lugar de existência do bem ou do mal, nada mais que isso, frutos de diversas simbologias impregnadas pelas religiões que nos predispomos a seguir, porém, sem descrições além do simbólico. Empiricamente desconheço qualquer explicação.

Daí me vem às dúvidas, algumas faltas de concordância no que afirmamos ou negamos plenamente, com essa convicção clara de quem tem força ao dizer no exercício da expressão. Tudo bem, você pode me dizer que tudo não passa da força do hábito, que a palavra é advérbio de intensidade e serve para isto mesmo, dar mais ênfase ao que está sendo dito. Concordo, mas o que me gera inquietação é como podemos utilizar de algo que não existe, tenho certeza, por experiência própria que toda e qualquer pessoa utiliza da palavra NUNCA muitas vezes involuntariamente, tantas outras não, fazemos questão de utilizar da expressão para dar mais confiança no que se diz, como se você precisasse desta palavra para ter uma maior credibilidade, o NÃO perdeu um pouco do sentido, para que se sinta seguro é preciso se prender ao NUNCA pela perna, e não soltar até que o que esteja sendo dito possa ser válido.

Eu também já disse NUNCA, inclusive disse para situações que não acreditava fazer mais, por puro impulso, raiva, descredibilidade, magoa, ressentimento, e com o tempo me peguei fazendo tudo aquilo que um dia julguei, ou disse não mais fazer. Utilizar do NUNCA é não reconhecer que por traz e acima de tudo você é humano, com virtudes e defeitos, capaz de cometer os mesmos erros, de fazer novamente acontecer tudo o que você acreditava NUNCA FAZER ou NUNCA TER FEITO.

Tente traduzir a palavra NUNCA? No dicionário da língua portuguesa encontrei seus sinônimos; jamais, não, em tempo algum. O NÃO cabe bem em várias frases que se utiliza o NUNCA, serve para dizer o que se quer, encaixa no sentido da frase, sem que você precise tantas vezes utilizar do NUNCA para ter certeza, ou passar certeza do que está dizendo.

O poder da tua fala não precisa de uma palavra tão forte, o NÃO, advérbio de negação por mais difícil que seja em certas situações de ser dito, é mais simples, não remete tanta prepotência e ganância quanto o NUNCA. É certo que tudo depende da maneira como está sendo dito, porém, o que eu sinto ao dizer o NUNCA é que a palavra quer ultrapassar a fala, as minhas ações, a minha confiança em dizer, em fazer com que o outro acredite veemente.

No mais, o efeito da palavra NUNCA não me trouxe até agora bons resultados, a gente sempre entra em contradição. Analise, tenho certeza que você também já passou por isso, dizer do NUNCA é falar do que não existe, é como se remeter há algo que sozinho no seu significado real não faz sentido e, se até mesmo a vida que rege todas as tuas horas não esta presa a esta palavra, como você pode querer utilizar da mesma para suas ações?

Dizer do NUNCA é querer se desprender da vida, da maneira dinâmica que a leva, que a faz ser cheia de sentido e energia. Você pode não querer cometer, ou não ter feito certas coisas, mais segurar na perna do NUNCA e andar preso a ela, querendo sombra e margem para os seus atos, tornará você covarde. Só a morte é capaz de explicar o sentido do NUNCA, a vida NÃO.