CRÔNICA PRIVADA
Desesperado, vi surgir á frente a minha grande esperança de salvação: “Igreja Pentecostal Universal do Símbolo do Peixe que virou a Cruz”. Entrei no templo e fui abordado pelo segurança.
- Boa noite, irmão! – disse ele.
- Preciso de ajuda – respondi com afobação.
- Veio ao local certo, irmão, como podemos o ajudar?
- O banheiro? Onde fica o banheiro?
Era a feijoada que me levava ao calvário. Aquele restaurante em que eu tinha almoçado não parecia mesmo confiável, mas a fome e aquele cheiro de feijão com seja lá o que for que eles misturam para fazer o mais brasileiro dos pratos, havia me enfeitiçado. Agora, eu pagava o preço de tamanho desrespeito com o meu corpo, meu estômago parecia ensaio de escola de samba e estava me levando à loucura.
- Sinto muito, mas os toaletes são apenas para os fiéis – penitenciou o segurança.
- Eu sou FIEL! – respondi quase gritando, não por agressão, mas por força do Alien que eu trazia no estômago – Acredito em Deus, sei rezar o Pai Nosso, já aceitei Jesus no meu coração, agora, me diga, pelamordedeus, onde fica o banheiro?
Não acho que ele acreditou em mim, talvez porque meus trajes (calção, camiseta e boné), associavam mais a minha imagem ao Chico do Pagodinho do que o Francisco Pregador.
- Qual o nome do pastor? - ele questionou - Quando foi a última vigília? O que está escrito no Salmo 23?
O sujeito não era um segurança, ele era um inquisidor. Naquela altura do meu estado evacuatório, mesmo se eu fosse um Ministro da Fé, não conseguiria lembrar algo além que vaso sanitário, papel higiênico e descarga.
- Olha moço, eu não sou cristão, nem nunca fiz a primeira comunhão, se você tentasse me classificar, provavelmente, diria que eu sou meio pagão, mas pelo amor de Cristo, pela luz do divino, em verdade, em verdade eu te imploro e digo: ONDE É O BANHEIRO?
Nada! Nem um sinal de misericórida do cidadão!
- Olha, moço - falei com tom ameaçador- Não sou filho do prefeito, nem conheço ninguém importante, mas garanto, se eu não usar o banheiro, o negócio vai FEDER para o seu lado!
Não sei se foi a minha ameaça ou o meu tamanho, mas o segurança, um negão de dois metros e meio, apontou um corredor á direita, e atravessei a porta do banheiro com toda a velocidade que consegui (devo ter batido algum recorde), chegando bem a tempo para um encontro privado e transcendental, e caro leitor, não leve a mal, mas esse texto acaba agora, pois há certas coisas que sentimos em certas situações que são inenarráveis, e por mais que eu queira, não posso compartilhar.
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