APENAS UMA ÁRVORE...


Uns dias atrás, falou-se sobre o papel de cada um no mundo. Não escrevi nada no dia, depois viajei e a idéia acabou se perdendo. Quando voltei, uma árvore do meu jardim havia caído, estava tombada por completo, sem recuperação. Observei que não tinha raízes profundas (talvez a causa), mas era uma árvore antiga, uma grevílea, para alimentar os beija flores. Ela esteve ali por tanto tempo, alimentou também os sebinhos, serviu de escala para bem-te-vis e de abrigo para ninhos de rolinhas. Alegrou minha visão com suas belas e delicadas flores, das quais colhi algumas sementes, gerei algumas mudas, que distribuí a alguns interessados. E ainda hoje, encontrei um pequeno cacho, que ainda não tinha espocado, esparramando as sementes, então coloquei algumas na terra. Se elas vingarão, não sei...

Se há alguma coisa que fiz, incansavelmente, durante toda a minha vida, foi plantar. De sementes a galhinhos (cortados ou lascados), mudas de todos os tipos, plantadas, dadas, doadas... Não tenho a conta das árvores que plantei: muitas, muitas mesmo, e, se alguém tem espaço, quando dou um presente, dou uma árvore. Se há alguma coisa que nunca fiz, foi cortar uma planta, arrancar, matar. Durante muitos anos, não tive jardineiro. Eu mesma fazia tudo pessoalmente. Por quê? Porque não arrancava nem mesmo um matinho sem pedir licença, desculpar-me, agradecer por ter nascido e ter estado ali, por ter feito parte da minha vida. E a minha sensibilidade a isso é tão grande, que quando realizo podas, mesmo tendo o cuidado de conversar com as plantas, eu tenho alguns problemas se me ferir, porque minha imunidade baixa. Afinal, não é tudo vivo? Não há estudos que demonstram que as plantas, tanto quanto os animais, percebem se gostamos delas ou não, se serão cortadas, ou não? Chegou um tempo em que o que eu tinha não era mais um jardim, mas sim, uma miscelânea de tudo que ali crescia espontaneamente e eu não tinha coragem de arrancar. Também não matava os bichinhos, não só os bonitinhos, mas também aqueles que costumamos chamar de nocivos. Os ratinhos, as baratas, as formigas, as moscas, as aranhas, as lagartas, as marias-fedidas (que me provocam alergias), umas cobrinhas verdes... Procurava saber como poderia mantê-los afastados, sem precisar eliminá-los. Até que um dia, apareceram escorpiões...
Procurei o centro de zoonose e recebi algumas orientações, mas fiquei assustada, confesso. E não tinha condições de trazer galinhas para o jardim para combater os escorpiões de forma natural. Então, conversando com uma amiga, muito mais zen do que eu, fazendo meus comentários sobre o tempo que uma planta leva para produzir uma fruta que, se não for colhida e consumida, irá cair no chão, apodrecer, quando há tanta fome no mundo, tive minha visão alterada pelo que ela disse. Ela mostrou-me que há necessidade de dividir espaços e criar limites e que não se pode permitir tudo livremente. Que eu mesma não sabia colocar limites e por isso agia e pensava assim...

Confesso que não fiquei plenamente convencida, mas mudei um pouco e hoje as coisas em meu jardim são diferentes. Mas, ainda salvo uma formiga que cai na água e outras coisas do gênero. Quando arranco um mato, peço licença; quando mato um inseto, mesmo que por defesa, peço perdão. Não me sinto muito confortável nessa situação; me acham meio estranha, mas ainda acho que a convivência entre os seres vivos poderia ser diferente. Pobres dos animais. Da minha árvore eu pude tirar uma semente, quem sabe ela vingue, mas quando piso numa formiga, não posso colocar outra no lugar, nem ao menos tentar. Que dizer, então, das atrocidades praticadas por aí contra os seres indefesos desses dois reinos?