IMPRESSÕES SOBRE AS MULHERES LATINAS RESIDENTES EM USA
Uma roda de mulheres latinas conversando num típico quintal da classe média norte-americana. Jardim bem cuidado, sem varais ou roupas secando ao vento, que permitam macular a visão dos vizinhos ou da paisagem bucólica do quintal dos residentes latinos.
Na cerca feita de ripas largas de madeira, ornamentos coloridos de cerâmica dão um ar alegre ao local, borboletas esvoaçantes, araras de plumagem avermelhada, caricaturas do sol, da lua, mostram ainda uma forte influência dos povos pré-colombianos.
Ao longo de milhares de anos, para ser mais exato, por volta do século XIII a.C., surgiu na América às primeiras civilizações, bem antes de se falar na descoberta sangrenta da América pelos europeus, importantes povos, aqui moravam. Possuíam complexa organização social, econômica e política. Adiantados nos estudos arquitetônicos e por que não afirmar, sem medo de errar, tecnológico; realizaram grandes obras públicas: sistema de irrigação, assim como palácios e templos, tanto na mesoamérica, onde se encontravam Maias e Astecas, como no Altiplano Andino, lá se desenvolveu o Império Inca.
Gostaria de salientar um aspecto muito esclarecedor para o fato de : evoluirmos do inicio da crônica do bucolismo, e, dos enfeites solares e lunares, vistos nos quintais da civilização moderna norte-americana para a relatividade histórica dos povos pré-colombianos. A preocupação, mesmo que, religiosa também estava presente nas realizações dos maias no campo do registro do tempo. Uma das grandes realizações, devidas aos sacerdotes, com certeza, foi o calendário da América Central.
O estudo feito por antropólogos e historiadores leva a relevantes descobertas, uma delas sobre o calendário cíclico, que abrangia um período de 52 anos, era um sistema complexo de contagem do tempo, agrupando três ciclos, com número diferente de dias e com múltiplas combinações. Esse calendário orientava as atividades humanas e pressagiavam as vontades dos deuses.
Os maias fizeram notáveis progressos na Astronomia (eclipses solares, movimento dos planetas). Também adquiriram avançadas noções de Matemática, como um símbolo para o zero, e o principio do valor relativo. Embora não esteja ainda de todo decifrada, já se sabe que a escrita maia, considerada sagrada, não se baseava em um alfabeto: havia sinais pictográficos e símbolos apresentando sílabas, ou combinações de sons.
Mas, para os amantes da Literatura, como eu, pouco restou da produção literária da civilização pré-colombiana. Sobressai, no entanto, o Popol Vuh, o livro sagrado dos índios maias que habitavam no que hoje é a Guatemala. Nele se explica a origem do mundo e a história dos soberanos maias. É um texto escrito em língua quiché (grupo étnico da família maia) em meados do século XVI por algum membro da citada etnia que já tinha sido orientado pelos espanhóis, pois compôs a obra com caracteres do alfabeto latino.
O Popol Vuh (cuja tradução aproximada seria Livro do Conselho ou Livro da Comunidade) supõe um autêntico compêndio do pensamento quichés (e, por extensão, da mitologia maia), possivelmente só tinham perdurado por tradição oral, é considerado um dos mais valiosos exemplos de Literatura indígena.
Os historiadores contam que o Popol Vuh foi escrito originalmente em pele de veado, e transcrito posteriormente ao latim por Frei Alonso do Portillo de Noreña. Mas, a versão em castelhano foi realizada, a partir do texto em latim, no início do século XVIII pelo frade dominicano Francisco Ximénez. Ele contou ter descoberto o manuscrito num convento franciscano de Santo Tomás Chichicastenango. Francisco Ximénez o titulou: Livro do comum.
O nome Popol Vuh foi dado por Charles Etienne Brasseur de Bourbourg, um estudioso de temas americanistas que, já no século XIX, traduziu-o ao francês. "Popol" é uma palavra maia que significa reunião, comunidade ou casa comum, enquanto "Vuh" é o nome da árvore de cuja crosta se fazia o papel.
A primeira parte desse compendio literário é uma descrição da criação do mundo e da origem do homem. Após, vários fracassos, o sucesso aconteceu quando tudo foi feito de milho, o alimento que constituía a base da alimentação dos maias.
Na segunda parte e contada às aventuras dos jovens semideuses Hunahpú e Ixbalanqué que termina com o castigo dos malvados, e de seus pais sacrificados pelos gênios do mal em seu reino sombrio de Xibalbay.
Fica para a terceira parte a história detalhada da origem dos povos indígenas de Guatemala, suas emigrações, sua distribuição no território, suas guerras e o predomínio da raça quiché sobre as outras, até pouco antes da conquista espanhola. Descreve também a história dos Reis e a história de conquistas de outros povos.
Contudo, voltando à roda das mulheres latinas, o que se percebe com nitidez, por um observador perspicaz, é a força do sangue desse povo pré- colombiano na tenacidade, dinamismo e espiritualidade do foco narrativo dessa crônica: AS MULHERES.
As que estão em foco são as nicaragüenses, da tal roda em questão, com que liberdade e conhecimento essas mulheres do século XXI discutem sobre temas polêmicos e engajados como a política feita pelos governantes das nações das “Três Américas”.
A atenção maior do discurso das mulheres se voltou para o episódio ocorrido durante a sessão de encerramento da 17ª Cúpula Ibero-Americana. Em uma reação fora do normal Juan Carlos perdeu a paciência com as interrupções de Hugo Chávez ao discurso do primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Até que o rei gritou:
_?Porque’ no se calla?
_ "Por que você não se cala?".
As mulheres mostrando discernimento diziam do perigo desse discurso ditatorial, digamos de uma esquerda nazi-fascista, tão apregoado por esse político venezuelano. Para compreendermos melhor descrevo uma mínima parte do ocorrido.
O presidente da Venezuela acusa os Estados Unidos e o governo Aznar de ter apoiado o golpe que o afastou do cargo em 2002. Na época, o embaixador norte-americano e o espanhol em Caracas assistiram à cerimônia de posse de uma efêmera junta de governo civil-militar.
Mas, voltando ao dia posterior a toda essa discussão, 11 de novembro de 2007, novamente polëmico, Chávez conversou por mais de uma hora com jornalistas, e mostrou em seu discurso, alusões à conquista espanhola da América e à imagem que os monarcas promoveram séculos atrás no continente. Ele dizia: “eu vi as imagens do rei alterado. Bom, os reis também se alteram, então, posso concluir que: são seres humanos, de carne e osso. Porque antes se dizia aos índios daqui que o rei era enviado de Deus."
Bom! Termino com esse olhar critico de uma mulher que pretendeu escrever sobre ideais revolucionários, sem armas e mortes, sobre a história sempre efervescente do povo latino, na visão de outras mulheres latinas, sentadas em uma roda em um quintal, com uma frase de um homem que deixou marcas profundas na minha visão do que de fato é uma vida heróica, de quem pensa com criticidade, este homem nas leituras da minha juventude foi denominado o “General dos Homens Livres”: Augusto César Sandino.
Ele, tanto quanto :Joaquim José da Silva Xavier, Martin Luther King Jr, Malcolm X, Mahatma Gandhi, Sócrates, mais as mulheres sacrificadas ao longo da história, cujos nomes não são celebrados, tanto quanto aos dos homens, tais como: Cassandra e as mulheres de Tróia e de todas as guerras, as mal faladas bruxas, mulheres que eram punidas no tempo da Inquisição por defenderem, já naquele tempo, os ideais feministas, as mulheres sacrificadas em um 8 de março do século XIX, nos Estados Unidos.
Sandino também assassinado covarde e impunemente, por ordens do futuro ditador foi um paradigma e inspiração do patriotismo nicaragüense, Sandino simboliza o espírito da dignidade nacional não somente para o seu povo, mas para toda a América Latina:
“O homem que da sua pátria não exige mais do que um palmo de terra para sua sepultura, merece ser ouvido e não apenas ser ouvido, mas levado a sério”.