Magali, Eu???
Chegaram a Belo Horizonte, por volta das vinte e uma horas. No avião da Gol, o jantar foi uma prosaica barrinha de cereais e um pacotinho de amendoins. O que sustentou a carcaça e as lombrigas foi o suco Valle de laranja, cujo gosto fica num ponto médio entre o das frutas estragadas e o de sucos de saquinho, em pó. Muito artificial e ácido, deve fazer bem para a gastrite.
Ou seja, estavam famintos.
Chegando ao hotel, um delicioso cheiro de carne assada lhes invadiu as narinas. Viram, do outro lado da rua uma monstruosa churrascaria, com aparência excelente. E os estômagos roncaram tão alto que as pessoas que se encontravam na recepção olharam para eles como se esperassem ver um tiranossauro-rex em sua companhia.
Porém, no táxi, durante o trajeto desde o aeroporto, falavam sobre a cidade que os três conheciam um pouquinho. Inevitável que restaurantes e a maravilhosa culinária de Minas fossem o assunto. Um dos amigos sugeriu que fossem ao Xapuri, onde ele havia provado deliciosas iguarias quando passou férias recentes por ali. Localizado nas proximidades da Lagoa, imaginavam que não deveria ser longe, pois já estavam na Pampulha. E assim, tão logo fizeram check-in e liberaram-se das bagagens, tomaram outro táxi com destino ao restaurante. O taxista, esperto, ficou quietinho e seguiu para o endereço indicado, numa viagem que durou mais de quarenta minutos, tempo necessário para darem quase um volta inteira na lagoa. Durante todo esse tempo, ela não parava de dizer o quanto estava faminta. Chegou a usar o superlativo: famélica, palavra que só toca em situações extremas.
Ainda rodaram mais um pouco pelas ruas desertas do bairro pois o motorista não sabia, com exatidão em qual delas escondia-se tão renomado templo da gastronomia. Quando o encontraram, ela teve ganas de matar o amigo, o motorista e as corujas que piavam sobre a cerca, como se rissem dela: fechado! O lugar estava fechado!! Era segunda-feira: dia universal de repouso para os donos e trabalhadores de clubes e restaurantes.
Nesse momento, até o superlativo parecia pouco para o tamanho da sua fome. No caminho de volta, contava piadas, na esperança de esquecê-la. Quando desceram do carro, na porta da churrascaria, aquela, que ficava a uns dois minutos a pé do hotel, ela parecia criança, saltitando e batendo palmas.
Quando aproximou-se do bufê de saladas e pratos quentes, não fosse pelo sorriso, pareceria mesmo um t-rex, pronto ao ataque, o prato na mão. Comeu mais do que um padre italiano em dia de Ação de Graças. Os amigos a apelidaram de Magali, a meiga personagem de Maurício de Sousa. Entre uma picanha e outra ela até protestou pela comparação injusta, culpando a gastrite pela urgência em alimentar-se, mas perdeu toda e qualquer razão quando viu aproximar-se o carrinho com a costela de ripa. Se o garçom fosse o Brad Pit e estivesse nu, talvez ela nem notasse, os olhos grudados na carne brilhosa e fumegante.