O DIA DAS MÃES

quando o menino, sorrateiramente, colheu no jardim do metrô, em plena praça, uma flor e a embalou em pedaço de jornal, naquele gesto de quem entrega um tesouro, eivado de cuidados e de amor, já teria valido a pena esse dia...

O sorriso naquele rosto sulcado pelo tempo, parcialmente oculto em um lenço a cobrir-lhe parte do rosto, rodeada de seus trastes em um canto do logradouro, cercada de sua indigência material, traduzia todo o encanto que só pode brotar de um Ser magnânimo que nos oferece a misericórdia divina para nos acompanhar na existência...

Ali, naquele espaço público, onde as luzes em neon prodigalizavam tentadoras ofertas de consumo, brotava, pela luz da alma, uma claridade superior, momento mágico e encantador, invisível, contudo, pelos mais apressados com a faina que nos escraviza e tornam os dias insossas obrigações... " Compre qualquer coisa, veja o que ela gosta, domingo a gente sai para comer fora, resolva isso para mim, ok ?"

Até que as reminiscências fiquem opacas, como fotos antigas arquivadas em álbuns empoeirados ocultos em qualquer lugar da casa, onde se examina fortuitamente forçando a memória para recordar fatos passados e saudosos...

E os primeiros passos, quedas e vitórias, partilhados emotivamente em um sentimento incomensurável e desapegado de interesses outros que não a nossa felicidade, se perdem como a flor solitária depositada sob a lápide de uma sepultura, onde se encerram bem mais que despojos físicos mas a beleza das coisas mais sublimes...