HERÓIS DA VIDA INTEIRA

Mamãe pediu-me para ir à mercearia da esquina.Fui sem reclamar,no caminho deparei-me com uma cena desagradável.Três garotos batiam violentamente em uma criança de uns quatro anos de idade.Uma revolta muito grande tomou conta de mim,sem perceber,estava brigando com eles.Apanhei bastante,tomaram meu dinheiro,mas consegui diminuir a dor daquela criança.Mal teve tempo de agradecer,pois apareceram os pais dela e antes de levá-lo,convidaram-me para ir à casa deles.

Moravam ao lado da mercearia,dissera que estaria lá assim que mamãe permitisse.Não iria sozinho.Um dia após esse episódio com o menino,todos da rua julgaram-me herói,fazia idéia do que essa palavra significava.Tinha os meus,dos quadrinhos ou não,mas ser assediado para relatar a mesma coisa tantas vezes,deixou-me a princípio deslumbrado e orgulhoso.Exageraram,sou imperfeito,tenho defeitos,quem não os têm?Imaginava como os heróis ou até mesmo os famosos se sentiam com a ausência da privacidade.Minha família resolvera fazer uma visita aos pais daquele menino,após tanta repercussão.Fui com eles.

Era uma casa de um cômodo,chamei-a assim porque onde quer que moremos,seja do jeito que for honramos nosso lar.Havia poucas panelas e o pretume delas denunciava o uso de fogueira para cozinhar.Nenhum móvel,as roupas eram guardadas em uma caixa,a geladeira estava vazia.Tudo estava muito limpo.A mulher aparentava quarenta anos,talvez fosse menos,pois o sofrimento envelhece a pessoa.Não trabalhava,ficava cuidando dos quatro filhos.Fazia diária quando aparecia trabalho.O mais velho tinha doze anos,a mesma idade que a minha,o pai vivia da aposentadoria,sofrera um acidente na construção,desde então se arranjava como podia.Ofereceram um café coado momentos antes.Quanta grandeza naquela família,entregues à própria sorte nada podiam fazer.A nobreza dos gestos e palavras apagavam qualquer traço de humildade evidente.Com poucos recursos plantaram a semente da dignidade nos filhos.Estes tinham conhecimento dos heróis badalados,mas a figura dos pais suplantava qualquer um deles.Super-homem que nada,super eram eles.Pensei nos meus.Eles queriam ser alguém na vida,"istudem fios" era o que dizia repetidamente.

Meu pai dissera-lhes que tamanha maldade não deveria ter acontecido.Apesar do estardalhaço proporcionado pelo meu gesto natural,serviu para consolidar a importância que se deve dar àqueles lutadores do cotidiano.Acordam cedo,pagam impostos,passam até fome por nós.A grandeza do homem está em vencer as adversidades e nelas criar oportunidades de crescimento pessoal.

Hoje nossas famílias são amigas,somos bem sucedidos profissionalmente,levamos uma vida bem confortável graças a eles que estão do nosso lado em momentos bons ou ruins,nossos heróis da vida inteira.

LÉO VINCEY
Enviado por LÉO VINCEY em 25/08/2008
Código do texto: T1145349
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