O FUTURO SEGUNDO VIVIANE FORRESTER
Enquanto não ecoa um grito retumbante saído da garganta de um cristão injuriado (grita Emmanuel Clélio!!!) com as estripulias das excelências que têm poder de mando neste Mundo do Deus de todos nós, que parecem querer tocarem fogo no distinto e contemplarem o fogaréu tocando harpa, vou aqui para o terreiro de casa sentar na pedra, pôr a mão no queixo e pensar.
E pensei... Não sei se por conta de tanto ouvir falar em desigualdade social, desemprego, mão de obra desqualificada etc. etc. o certo é , quem me veio à mente foi a francesa Viviane Forrester, que tempos atrás escreveu um livro de sucesso denominado “O Horror Econômico”, onde ela profetiza um futuro nada promissor para os menos afortunados. Segundo suas próprias palavras, estamos caminhando para um tempo em que as vidas desses não serão mais de utilidade, passarão a ser coisas descartáveis.
Credite-se essa situação à economia neoliberal e globalizada
Nesse mundo previsto por Viviane, nem todos servirão para viver. A mão-de-obra desqualificada será extinta. Os pobres, mendigos e miseráveis considerados imprestáveis até para serem explorados, serão condenados à eliminação.
Agora me diga, dentro dessa visão, quais as perspectivas para quem vive neste Brasil varonil e está incluído entre os 60 milhões de desafortunados , contando ai os ditos miseráveis, sem grau de escolaridade, e sem a tal da mão de obra classificada e salário abaixo do mínimo?
Aqui pra nós, a se confirmar a profecia de Viviane, excetuando-se a turma que detém a concentração de renda (20%?), o resto vai ser catalogado como massa de imprestáveis. Para o forninho da queimação é que vamos nós.
Pelo sim, ou pelo não, para esse triste fim já estou me preparando psicologicamente. Comecei a ler o escritor português Miguel Torga; quero me tornar tão passiva quanto os seus personagens, feito o mendigo do conto “Natal”, o velho Garrinchas, que disse lá pra seus botões: “(...) um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Então, se fosse a queixar-se cada consideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada
Mas essa história tem fim: o velho Garrinchas passou o Natal dentro de uma igreja vazia. Como fazia muito frio, ele pôs fogo no andor da procissão do dia seguinte, que estava arrumado a um canto. Enxuto e quente, dispôs-se a cear, mas antes foi até ao altar, pegou a imagem de Maria com o menino Jesus e os trouxe para junto da fogueira. E “com a pureza e a ironia dum patriarca” disse: “A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José”.
Que gracinha, por certo me diria a Hebe se me lesse...