A 'AMARELINHA' E AS OLIMPÍADAS
Acabaram-se as olimpíadas e nós brasileiros ficamos com a sensação de que podíamos mais e fomos barrados por uma condição psicológica chamado medo.
Essa questão do “amarelar” não é nova para o brasileiro, eis que já vimos muito o mesmo filme, principalmente no futebol, pois essa sensação também ficou na copa do mundo quando perdemos para a França, naquele episódio do Ronaldinho; nas próprias olimpíadas quando perdemos para um time africano na prorrogação e com o chamado“gol de ouro”; numa outra olimpíada quando a equipe de vôlei feminino perdeu para os Estados Unidos, através de uma performance que não convenceu pela clareza do estado de ânimo negativo; e também nesta olimpíada - recém encerrada- quando a seleção masculina de vôlei, quando mais precisa reagir, deixou-se abater pelos nervos. Enfim, são tantos os exemplos de derrotas brasileiras na Olímpiada da China, nas diversas modalidades, como é caso das ginastas, de Diego Hipólito, do basquete, do vôlei de praia, do futebol masculino, do futebol feminino etc. etc.
Acredito que essa condição de derrotismo impregnada nos escretes brasileiros tem a ver com nossa cultura de povo passivo, pois aceitamos com muita leniência os adversos que a vida nos oferece. Isso deve ter uma explicação de ordem psicológica e deve ser objeto de estudos em faculdades do ramo, com monografias e teses de doutorados, para que possamos chegar num resultado satisfatório em competições mundiais, pois os nossos atletas se prepararam e muitas vezes são favoritos, mas nem sempre consegue superar a barreira do medo.
Preocupado com essa questão, tenho ficado atento aos pareceres dos diversos experts da área psicológica e recentemente vi a entrevista como uma profissional do ramo, onde ela frisava que o atleta deve ter o enfoque exclusivo para a atividade que executa, não podendo tangenciar seus pensamentos para devaneios que o impede de concentrar-se, como por exemplo pensar na família, pensar nas glórias se fosse um vencedor, enfim, o atleta deve arrojar-se no fim específico, como se estivesse vivo apenas para competir, extraindo do seu interior todas as forças que o tornem imbatível, não olhando para o lado, porque poderá por em choque sua competência se por acaso pensar que alguém adversário seja mais forte ou mais famoso.
Temos de vencer a barreira do medo. Já foi dito alhures: “Quem tem medo de vencer perde a vontade de ganhar”. Isso é uma verdade nua e crua. Nossos atletas devem treinar física e taticamente, mas também serem preparados psicologicamente, pois o maior inimigo de um homem é ele próprio, por conhecer-se a si mesmo e muitas vezes por ter uma noção pessimista do mundo em geral, acaba projetando para si próprio uma condição negativa na competição e isso certamente o derrotará como atleta.
Por outro lado, os brasileiros são heróis por natureza, já que ao competirem com atletas europeus, por exemplo, sempre estarão em desvantagem por vários fatores de ordem natural, pois temos problemas sociais, temos condições ínfimas de preparo, por não sermos um país preparado e com cultura para evoluir nesses esportes; onde o atleta muitas vezes não tem patrocínio e para progredir tem de superar o problema econômico, como é o exemplo da judoca brasileira que alcançou a medalha de bronze, ficando evidenciado de que sua mãe teve de fazer empréstimos para poder levá-la à Olimpíada da China.
Assim, dentro dessa ótica de sacrifícios e de problemas estruturais temos de nos sentir orgulhosos por termos alcançado alguns pódios na Olimpíada que se encerrou, mas ao mesmo tempo estamos com uma certa decepção por não termos alcançado uma melhor posição nos esportes em que éramos favoritos, pois, nestes, ninguém pode reclamar de falta de patrocínio ou de problemas sociais por serem esportes de elite no Brasil, como é o caso do vôlei masculino e do futebol masculino. Nestas duas modalidades ficou visível que o atletas em certo momento “amarelaram” e não corresponderam às nossas expectativas. Na seleção masculina de vôlei teve um momento do 4º set que o Brasil estava com 03 pontos na frente dos Estados Unidos e quando precisava manter-se concentrado, acabou cedendo diante da hegemonia e dos 'nervos de aço' dos americanos e pouco a pouco marchou para a derrota. O mesmo ocorreu com o Brasil no jogo da seleção masculina de futebol no jogo contra a Argentina, quando nossos jogadores, demonstrando incapacidade para reagir acabaram perdendo o jogo por 3 X 0.
Já é hora dos diversos setores do mundo esportivo brasileiro começar a executar um trabalho psicológico com nossos atletas, tornando-os um pouco mais frios e calculistas nas modalidades esportivas que se dispõem a praticar. Isso, a princípio, soa um pouco disforme como elemento de caráter e de comportamento individual, mas, infelizmente, é necessário, pois os exemplos mundiais demonstram que para ser vencedor o atleta tem de reunir uma tríplice performance: preparo físico; preparo técnico e preparo psicológico.
Quanto à nossa seleção brasileira masculina de futebol, deve 'cair a ficha' – ou alguém mais inteligente que nosso treinador - deve confidenciar ao ouvido de cada um deles de que já foi a hora em que o Brasil era favorito em qualquer competição. Hoje, para que haja um resultado satisfatório para o escrete brasileiro é necessário muito mais do que 'jogar no exterior', ou seja, é preciso brilho pessoal, honra à camisa, esforço físico ao extremo.Neste particular, o psicólogo ou a psicóloga deve trabalhar ao contrário dos demais atletas, dizendo a eles (jogadores de futebol) de que muito otimismo não ganha jogo, eis que é preciso, além da técnica, muito esforço e muita dedicação.