PAPER BACK WRITER

ESCRITOR DE BIOGRAFIAS E CRÔNICAS

[Plagiado PAPER BACK WRITER, canção de Lennon & McCartney]

Nelson Marzullo Tangerini

No final de semana passado, dias de descanso!, quando estava em casa ouvindo Beatles, passou pela Abbey Road da minha imaginação a semelhança entre aquele escritor fictício da canção Paper Back Writer e todos nós escritores que lutamos por um espaço na tão disputada literatura do Planeta Terra.

Minha vida não é um palco iluminado. Nunca me vesti de doirado. Nem sou um escritor best-seller, com tradução para o persa. Sou apenas um professor de Língua Portuguesa e Literatura descontente com os baixos salários de minha categoria; um cidadão comum que se formou também em uma faculdade de Jornalismo e escreve crônicas para o Polegar, um modesto e grandioso jornal de Novo Hamburgo, interior do Rio Grande do Sul.

Na pior das hipóteses, sou um sonhador, mas não o único; sou “um tolo na montanha“; e não vivo numa torre de marfim, como os poetas simbolistas – embora seja um admirador confesso do poeta negro Cruz e Sousa. Sonho, sim, com dias melhores, porque sou um pessimista otimista e acredito no amanhã.

Como o tempo passa e nossas mentes envelhecem e mudam, cansei de bater em portas de editoras, me humilhar e pedir: “- Senhor, senhora, por favor, podem ler meu livro? Levei anos para escrevê-lo, vocês podem dar uma lida nele?”

Meu livro é a biografia de um homem chamado Nestor Tangerini, que escrevia para o Teatro de Revista brasileiro. Ele é meu pai e eu gostaria de corrigir erros de gente que andou escrevendo sobre o assunto; desejava fazer as pessoas crerem que o piracicabano um dia existiu - e escreveu poesias satíricas, peças de teatro, trovas, crônicas, canções, além de ser um exímio caricaturista de estilo cubista.

Gostaria de ter uma oportunidade, de ver um livro meu publicado, seja ele uma biografia ou um livro de crônicas – sobre Carlos Drummond de Andrade ou sobre o Café Paris, de Niterói. Então, editores, quero ser um escritor de crônicas e biografias.

Sei muito bem que não é uma vida estável, que é uma vida muito dura, mas, mesmo assim, quero ser um escritor.

“Perfil Quase Perdido – uma biografia para Nestor Tangerini”, por exemplo, tem mais de 140 páginas. É o retrato honesto e vivo da belle époque de nosso teatro. Falo de Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Oscarito, Henriqueta Brieba, Walter Dávila, Aldo Cabral, Ataúlfo Alves, Mesquitinha, Ronaldo Lupo, minhas família, entre outras pessoas.

Caros editores, leia-o com atenção e paciência - ou largue-o.

Em algumas semanas, se vocês, editores, desejarem, posso esticá-lo um pouco mais, aumentá-lo - se vocês gostarem do estilo. Posso também mudá-lo por completo, enxugá-lo, torná-lo menos pessoal, menos rancoroso, mas quero ser um escritor de livros de crônicas e biografias.

Se gostarem, podem fazer um milhão cópias do dia para a noite, distribuí-lo em todas as livrarias das grandes capitais e do interior, sem que isso interfira na questão dos direitos autorais.

Plagiando Fernando Vallejo, eu diria que o que meus leitores irão ler é a minha alma - repleta de amor pela literatura, pelo teatro, pela música, pelos meus amigos, pelos amigos de minha família, pela minha família, pelo artista que se dá e se deu ao público..

À moda de Borges, durante todos esses anos, dediquei-me à literatura e percorri sebos do Brasil e de Portugal em busca da literatura humanista e universal.

Não sou um cidadão de Atenas; sou um Cidadão do Mundo, apaixonado por Lisboa, Istambul, Ouro Preto, Praga, Dublin, Conservatória, Piracicaba, Veneza, Bilbao, Liverpool...

Minha vida é andar por este planeta, ainda que seja através da literatura. Porque, venhamos e convenhamos, os baixos salários do magistério não permitem que, nós, professores, alcemos vôo e viajemos nem mesmo através dos livros.

Então, conformado, vivo esta vida machadiana, escrevendo crônicas agarrado a esta cidade que um dia já foi maravilhosa.

Mas..., senhores editores, preciso de uma oportunidade, pois quero ser um escritor como Machado de Assis, Jorge Luis Borges, Rubem Braga, Fernando Brant, Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant´Anna.

Apaixonado, também, por Geografia e mapas - sou borgiano -, quero entrar naquela aquarela pintada por Toquinho e Vinícius e ver mares, montanhas, cidades, pessoas, culturas.

[Está crônica é dedicada à Professora de inglês Iacy Nunes, minha amiga de trabalho, que me enviou a tradução de Paper Back Writer, canção de Lennon & McCartney, The Beatles, feita por ela]

Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

nmtangerini@yahoo.com.br,

nmtangerini@hotmail.com, nmtangerini@gmail.com