O KARAOKÊ...
A briga entre o casal foi feia. Nosso amigo estava com um enorme galo na testa e o motivo foi simples. Depois de uma noite de amor, ele e sua noiva brigaram e de raiva ela jogou um cinzeiro na testa dele.
Era por este motivo que nossa turma estaria se reunindo , em caráter de emergência, num novo barzinho naquela quarta feira. Nosso amigo aproveitaria a ocasião para chorar suas mágoas, contar o motivo de ter recebido um cinzeiro na testa (ainda bem que era um cinzeiro de cristal) , bem como aproveitaria para tomar uns três ou muitos copos de chope.
Briga de namorados, noivos ou amantes, principalmente quando tem cinzeirada, tem que ser discutida com um grupo de amigos, chopes e salgadinhos. Combinamos o encontro para um novo bar recém inaugurado, cuja principal atração era um karaokê.
Particularmente odeio karaokês, mas como gostava muito do meu amigo e naquele momento de dor (dor na testa e no coração), eu tinha que ser solidário, quer dizer, dividiria as despesas.
O bar era agradável, não estava muito cheio e o garçom gentilmente permitiu que juntássemos duas mesas. A primeira rodada de chopes não demorou e depois dos brindes iniciais nosso amigo pediu a palavra.
Disse que na noite anterior resolvera dormir na casa da noiva. Fazia isso com certa frequência e quando já era de madrugada, depois de vários abraços e beijos, nosso amigo caiu na besteira de comentar que a Madona, mesmo tendo completado cinqüenta anos, continuava linda e que ainda tinha um corpinho encantador.
Resultado. Um pontapé o derrubou da cama e em seguida, uma cinzeirada o carimbou bem no meio da testa. Ainda meio zonzo foi empurrado para a rua só de cueca e camiseta. A calça e a camisa foram jogadas pela janela e por azar caíram numa poça de lama.
Nesse momento, nova rodada de chopes foi servida e o garçom aproveiou para perguntar se meu amigo não queria umas pedras de gelo para colocar na testa. Solidários com a tristeza do noivo agredido, mordemos nossas línguas para não cair na gargalhada.
Fingimos estar tristes. Entretanto, para infelicidade de todos, um sujeito que aparentava estar bêbado ligou o karaokê. E para infelicidade maior ainda começou a cantar o “Outra vez “ do Roberto Carlos.
Surpreendentemente nosso amigo começou a chorar e nós, seus fiéis amigos, disparamos a rir. É claro que o bêbado percebendo a cena veio até nossa mesa pedir satisfações. Não estávamos entendo bem o que ele queria dizer, mas nos pareceu que estava ofendido.
Quando tudo indicava que a discussão poderia ficar acalorada e incontrolável nosso amigo chorão se levantou, deu um abraço no bêbado e os dois foram juntos para a máquina do karaokê fazer uma dupla com musicas sentimentais.
Soubemos depois que o bêbado tinha sido abandonado pela namorada. Agora imaginem a cena. Dois sujeitos chorando, tomando chope , ambos brigados com as respectivas namoradas, abraçados cantando músicas de dor de cotovelo. Patética a cena.
Nossa vontade era pagar as despesas e levar nosso amigo embora. Acontece que para nossa surpresa outras pessoas presentes estavam gostando da cantoria e resolveram se juntar aos dois amantes sofredores. Resultado, a reunião transformou-se num imenso coral de chorões e defensores do sofrimento e dor de cotovelo.
Teve um que, solidário as marcas na testa do meu amigo, resolveu dar uma cabeçada na parede, só para demonstrar seu protesto e solidariedade.
Outro disse que era feliz, não tinha brigado e nem perdido a namorada mas, por via das dúvidas estava tomado um porre para, no caso de ocorrer alguma briga, já estar se consolando antecipadamente.
Eu demorei um pouco para entender o que estava acontecendo. Homens chorando, a um passo de tomarem um grande porre e ainda por cima cantando musicas do Roberto Carlos. Era demais prá mim.
Resolvi pedir mais uma rodada de chopes e passei a prestar atenção às pessoas que passavam na rua. Algumas bem interessantes.
E como acabou aquela farra ? Simples, meu amigo bebeu tanto que teve que ser levado prá casa carregado. Todos os cantores resolveram ratear as despesas e até que não ficou tão caro assim para cada um.
De quebra, o dono do bar nos convidou para voltar na semana seguinte, pois iria comprar uma nova coleção de músicas sentimentais.
No dia seguinte, soubemos que nosso amigo fizera as pazes com a noiva. Só lamentou estar com uma enorme dor de cabeça mas isso, segundo sua santa e generosa ingenuidade, foi em conseqüência de uma grande ressaca.
A verdade é que, odeio karaokês.....
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(.....imagem google.....)