LISTA DE BEIJOS NÃO DADOS
LISTA DE BEIJOS NÃO DADOS
Marília L. Paixão
Quantas vezes entornei o leite? Quantas vezes fiquei sem tomar sorvete? Quantas vezes ficou muito forte o café? Quantas latas de cerveja congelaram esquecidas? E as garrafas ao serem servidas?
Quantas vezes dizemos que quase choramos de ódio? Quantas vezes admitimos erros simplórios? Quantas vezes acabou o papel higiênico depois que você já está no banheiro? Quantas vezes queimou a resistência do chuveiro?
Quantas vezes corremos e o atraso ainda assim ficou registrado? Quantas vezes fomos vítimas de mau olhado? Quantas vezes mal interpretados fomos por quem nem conhecemos? Quantas vezes nos perdemos?
Quantas listas banais já foram feitas por mentes nada perfeitas? Apagamos os versos que pertenceriam às listas queridas. Versos para alguns são coisas de gente desocupada, gente que vive falando de amor para os outros e quem não vive um amor goza-nos a cara, minha cara.
Quantas vezes falamos de amor só para nós mesmos? Para nem sermos ouvidos ou lidos por aqueles que nosso amor toma. Assim o amor vai parar nas listas banais que é idéia principal deste texto e eu... ora?! Logo eu?! Deixo para continuar esta lista outro dia.
Afinal, quantas vezes interrompi um texto? Quantas vezes perdi o sono? Quantas vezes quebrei dietas? Quantas vezes não fui à festas? Quantas vezes tive o pé machucado por alguma sandália? Quantas vezes tive momentos em que a memória falha?
E se esta lista estiver ficando tediosa colocarei as unhas de molho só para não continuar. Ainda bem que não é proibido algemas de todo, caso as mãos não fiquem quietas nem um pouco, mas por você eu paro só para lhe dar um beijo e fazer um afago, sem embaraços.
Ou então teria que fazer uma lista de beijos não dados. Teria que desenhar mais flores e sois ensolarados mesmo ainda não passada a época de chuva. Diria com quantas letras se transforma um texto comum em ternura, mas tem coisas que não sabemos dizer, apenas viver e por isso eu retrato a calma deste dia comum como se fosse um dia lindo.