Doces Lembranças



Hoje acordei mais cedo. Espreguicei ruidosamente o que assustou o marido que ainda dormia. Pedi desculpas, “foi mal” o que fiz. Fiz minha oração da manhã ali mesmo deitada olhando a janela que ficou aberta à noite toda e, agora me clareava mostrando que o dia já surgira e era preciso ação...Oração!

As tarefas do dia me esperavam e, apressadamente, preparei o café, pus a mesa, para mim e o marido, só, e recebo a neta que ficará comigo até meio-dia.

Enquanto ela corre pela casa e brinca, fazendo das suas, fui para o quarto deixado desarrumado pelos filhos que saíram para o trabalho, antes que eu acordasse.

E aí... bateu a saudade que estava adormecida e que como eu acordou espreguiçando e esticando os braços...Envolveu-me por completo. As lágrimas que há muito estavam escondidas apareceram...E eu chorei...só um pouquinho. Um choro que não era choro. Um não sei o quê. Uma bobeira à toa.

Mas, lembrei o tempo que eu ia para o quarto deles acordá-los para trocar as fraldas, dar a mamadeira fazê-los dormir. As “carinhas” mais lindas do mundo, rechonchudas, coradas e espertas.

Eles cresceram, deixaram as fraldas e começava o tempo escolar...O jardim da infância (faz tempo, não é?) o primeiro ano de escola, os choros para não ficar lá longe de casa, da mamãe, dos seus brinquedos, com gente estranha e assustadora num lugar tão esquisito (e sou professora). As lições de casa feitas depois que eu chegava do trabalho, o acompanhamento da vida escolar de cada um com suas surpresas e decepções...

Ah! As festas de formatura! A do Jardim III, do quarto ano, da 8ª série, do Colegial, do Ensino Médio... Cada uma veio à tona com todas as riquezas e pobrezas! Tempo muito difícil para nós todos, financeiramente.

Eles começaram a trabalhar, a casa fica vazio o dia inteiro agora, sem a barulheira deles, pois a Maria Júlia Carolina não tem idade para fazer muito barulho e além do mais é só ela. Por mais que faça não aparece. Seus gritinhos são fofos, mas baixos perto do barulho dos meus quatro filhos!

O quarto desarrumado trouxe estas lembranças... Lembrei de fatos engraçados como o dia em o Júnior caiu da cama e não acordou nem assim. Quando eu acordei de manhã fui vê-los e levei um tremendo susto. Ele não estava na cama. Aonde um menino de cinco anos iria sozinho? Olhando melhor o encontrei dormindo debaixo do guarda roupa. Eu não acreditava no que via e ria, ria e, não conseguia tirar ele de lá, de tanto que ria! Meu marido é que foi pegá-lo e colocar na cama...ainda dormia! E hoje eu ri do mesmo jeito sentada na beirada de sua cama.

O Júnior mudou, ficou um homem enorme, quer se casar, não mais caiu da cama a não ser quando o celular o desperta para o trabalho! Continua caindo da cama, mas de outra forma e para outro lugar!

A cama da Edilene, agora casada, mãe da Maria Júlia Carolina, não foi desfeita, continua lá...A cama da Priscila que é mãe de um meninão de quinze anos, o Jefferson... A de Elano que está casado, pai de dois lindos filhos, era tão dorminhoco que dormiu uma noite em pé. Queria ir dormir e nós estávamos com visita em casa e ficamos à mesa conversando enquanto tomávamos café, de repente ele mandou as visitas embora, pois de tanto sono e me esperando para colocá-lo na cama, encostou a cabeça no meu ombro e, de repente escorregou, dobrou os joelhinhos e caiu... A visita foi embora, depois disso, bem rápido. Cada uma! Que só eu, mesmo para vivenciar estas situações! E não fiquei envergonhada, não da visita ir embora a toque de sono!

Depois disso a saudade, a nostalgia, me deixou. Fiquei satisfeita afinal das contas tudo está bem! Levantei-me satisfeita e terminei o resto da arrumação tranqüilamente brincando com a “Majuca”, minha mais nova bagunceira. A continuidade de todo o meu barulho , de toda uma vida!

A saudade voltou para o seu lugar até que alguma coisa a traga de volta trazendo sua companheira lágrima para reviver ou viver momentos de alegria, de satisfação, de felicidade real e concreta!


Marlene Vieira Aragão
São Paulo, 22 de agosto de 2007.

MVA
Enviado por MVA em 23/08/2008
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