Herança (2)

 

       Há um ano eu publiquei pela primeira vez no Recanto. Um poema, escrito há muito tempo e que deu nome ao meu primeiro livro de poemas: Herança. Bem explicado: não publicado, apenas um ajuntamento de folhas de papel datilografadas e passadas no mimeógrafo. Coisa de antiquário. Achei que seria um bom começo mostrar a importância para mim da herança cultural e emocional que recebi para desenvolver o meu trabalho literário.

            Hoje, resolvi reler o meu poema e os comentários recebidos. Foram 143 toques (não ouso chamá-los de leituras) e treze comentários. Alexandre Tambelli foi o meu primeiro comentarista. Bastante animador. Ele escreveu assim:

Bonito Maria Olimpia! O bom dessa história é que você recebeu com ela uma herança e tanto, a vocação para contadora de estórias através da escrita! Bem melhor sendo assim, um pouco fantástica, a sua herança! Fica muito mais gostoso de imaginar o que seria da sua Vida se fosse realmente verdade a história das Minas de Ouro! Parabéns! Continue a postar seus textos, adorei o poema, uma ótima noite, abraço, Alexandre!

 

            Alexandre anda meio sumido e estou com saudades dele. E ao pensar nele e na importância de suas palavras para a continuidade de meu trabalho aqui, comecei a desfiar minhas lembranças deste tempo tentando recuperar detalhes obscurecidos.

         Acredito que a maior herança que recebemos é aquela que nós mesmos construímos para nós. Aquela que, adquirida no passado se reflete em nosso hoje de cada dia. E aqui estão os meus 206 textos e 23706 leituras (toques). Por outro lado não tenho a menor idéia de quantos textos eu li e quantos comentários fiz. Mas sei que esta interação resultou na formação de uma corrente de amigos virtuais que me trazem muita alegria. A minha melhor herança. Aqui, eu ri e chorei. Encontrei pessoas maravilhosas e autores que não ficam nada a dever aos famosos. A leitura destes trabalhos enriqueceu sobremaneira o meu próprio trabalho. Aprendi. Talvez alguém tenha aprendido comigo também. Não só cresci, evolui.

     Quando comecei eu me sentia um patinho feio fora da lagoa. Não sabia o que fazer. Montei meu blog no site do Escritor (Grãos de Areia) apenas por questões estéticas. Publicava poesias no Recanto e no Site. Poesias nos textos e meus trabalhos mais pessoais no Meu Diário. Levei um tempinho para descobrir que quase ninguém lia o tal de diário. Aí fui levando a maioria para os Textos e a coisa melhorou. Porque eu queria ser lida e continuo querendo.

      Eu não sabia o que comentar e como comentar. Um dia caí na asneira de dizer a um resenhista que não tinha gostado do livro que ele resenhara. A coisa ficou feia. Fui bloqueada. Nem precisava, tinha aprendido o recado. Deixei de ler a pessoa, simplesmente. Já tive divergência de opinião, mas tudo na base da educação. Recebi críticas negativas. Muito poucas, mas recebi. Alguém chegou a dizer que não sei escrever crônicas. Não liguei. Eu sei o que eu sei. E sei também que muitas coisas eu não sei.A maioria das coisas. Mas posso aprender. Quando não posso elogiar, me calo. Quando gosto, falo. Algumas vezes sou prolixa, outras não. Mas sempre sou sincera. Quando escrevo gostei é porque gostei. Selecionei meus autores. Tenho uma listinha não escrita e estou sempre procurando por eles. Já não leio indiscriminadamente, não teria tempo para tanto. De repente, porém descubro um autor novo que me encanta. Estas descobertas são feitas através dos comentários que fazem aos meus textos. Sempre retorno embora nem sempre imediatamente. Outras vezes descubro um autor novo por puro acaso: o título de seu texto chama a minha atenção, ou seu nome me agrada. Outras vezes percebo que visitam meus amigos com certa freqüência. Deduzo que também são visitados e devem ser bons. Então vou atrás deles.

        Fiz amigos. Não os chamo de virtuais porque são reais. Como muitos amigos dos quais sinto o cheiro e olho nos olhos, alguns desaparecem. O Tom, por exemplo, irreverente e irônico, um grande talento. Ele não planeja voltar e sinto falta dele. Ficou a sua cara metade, sua alma gêmea ou o chinelo de seu pé (desculpe Edna, por esta última analogia), também uma grande amiga. Outros se ausentam por algum tempo e depois voltam. A Ana fez isso e voltou com a corda toda. A Maria Paula sumiu, voltou com pseudônimo e depois assumiu que não vive sem nós. Tenho medo de citar nomes e esquecer algum. Minha memória é um grande balaio de gatos. Alguns estão sempre me lendo, outros me lêem de vez em quando. Não me importo. Eu também faço isto.  Vou relacionar alguns. Mas esta crônica é uma obra aberta. À medida que for me lembrando, colocarei todos aqui. Marília (divergimos por causa do Halloween), Evelyne, Ângela, Vany, Raquel, Simone, Zélia, Silvia, Leila, Fernanda, Fernandinha e sua mãe, Rosa, Helena, Miriam, Tânia, Marlene, Hluna, Sônia, Vilma, Luciah, Clepsidra, Nena, Mila, Zuleika, Naja, Rosana, Mayah,  Maria Luísa e tantas outras que aos poucos irei lembrando. E os meninos? Bernard, Sergio, Leo, com quem viajo pelo mundo, Antônio, Maurélio, Jacó, Fernando (que vai abrir uma franquia de seu sebo virtual e eu serei a primeira franqueada) WRamos, o meu trovador caipira preferido,Gilbamar, Edson, Luis, José Carlos, Pedro. E outros e outras que já fazem parte de minha vida.

           Nunca fiz concessões para poder ser lida. Nunca coloquei títulos em meus textos simplesmente para que fossem lidos embora não passassem de lugares comuns. Já invejei a originalidade de certos títulos. Já tive vontade de ter escrito o que outro escreveu. Mas já cliquei e não li, já fiz leitura dinâmica, li e não gostei, li e quis brigar e já tive que me conter para não corrigir erros básicos. Erro também e não me importa que me corrijam. O Tom fazia isso e eu apenas voltava ao texto e corrigia. Grata.

         O saldo da minha vida no Recanto é positivo. Adquiri o hábito de escrever. Foi um estímulo e tanto. Antes, eu tinha fases. Passava tempos sem escrever.Agora, escrevo continuamente. Com isso trabalho minhas emoções e meu raciocínio. Analiso a minha própria herança. E conto a história que herdei para contar.