...NO CAMINHO QUE NINGUÉM CAMINHA...

O que fazer agora que a saudade despertou outra vez dentro do corpo? Eu talvez tenha perdido a noção do tempo e não sei mais quantos segundos ainda me resta para executar aqueles 12 trabalhos que exigiu para poder trazê-la de volta do mundo dos enforcados. Todo o tempo que jogo fora em busca de palavras que não decifram seu enigma. Eu sei o que causa nossa combustão mas estou cansado de me deixar queimar até restarem apenas as cinzas. Isso porque ainda não descobri o que fazer para partir antes da última brasa esfriar. Foi fogo o que vi nos seus olhos quando me olhou pela primeira vez. Aquele incêndio que dura até hoje foi culpa sua, e foi você também quem queimou as asas da ousadia quando se aproximou demais da minha vida. Me diz onde devo ir agora que cismou de andar com os olhos fechados. Eu já descobri a distância para o chão, e sabe que eu não me perco na bagunça que faz no céu, portanto me entrega logo as chaves da casa onde escondeu o meu amor. Sei que vai dizer que atirou as chaves por debaixo da porta igual ao que eu sempre fazia quando fugia sorridente da chegada repentina dos seus pais. Fingíamos que não sabíamos de nada enquanto eles fingiam não saber de nada. Até que sua vida pisasse sobre a minha, tenho as marcas dos seus pés em todos aqueles dias. Ainda assim, teus sonhos não foram capazes de me expulsar, e teus olhos não conseguem desviar do curso da dança imaginária que meus pés inventam no meio da rua, tua mente não consegue apagar todas as coisas que te escrevi e você desde aquele dia em que fui embora não deixa de me fazer estar ao seu lado com medo de que a distância realmente se transforme em um oceano entre nossos desejos.

"...nenhuma pessoa sozinha ia

nenhuma pessoa vinha

nem a estrela guia

nem a estrela..." ARNALDO ANTUNES