VITÓRIA A QUALQUER PREÇO
Vez por outra você houve alguém dizer: puxa, fulano é um poço de maldade. Aí eu me pergunto, só fulano? Por que não o mundo todo? Vejamos algumas situações em que o diabo corre solto dentro de nós: você já se pegou assistindo uma corrida de F1, esperando tão-somente, que o adversário mais próximo do seu piloto preferido, derrapasse numa curva e batesse no guard rail? Você já testemunhou alguém tentando pular das alturas para por fim a vida, e diante da indefinição do infeliz, sufocar na garganta o grito de pula! Pula! Mesmo se tratando de ficção, num filme, quando o bandido atrapalha, o que você espera do mocinho? Que o mate, pois não?
E na política, aí sim, sai de baixo! Quando o seu candidato ofende o oponente você releva, quando ele é ofendido você se indigna. Nos debates torcemos menos pela explanação de planos e metas de governo e muito mais por um estado de beligerância entre os contendores. Aceitamos que o nosso candidato encarne o Dr. Fausto de Goethe, não importando para tanto, que reúna toda a audácia necessária, contanto que a vitória seja obtida. Nesse caldeirão do diabo tanto entra o mal, como o bem, além de sapo barbudo e pescoço de mãe torcido, pouco nos importando, no caso, que o diabólico e o celestial se insinuem nas relações humanas de forma terrível e perigosa.
Nesta época de campanha política melhor seria que a gente agisse feito o Oliveira, que persuadiu o seu amigo Tomás, que estava desempregado a entrar para a política e disputar um mandato. Assim fez o Tomás. No entanto, no decorrer da campanha o seu nome foi execrado. Foi taxado de todos os vícios e defeitos, além de mentiroso, ambicioso, vulgar, intruso, gatuno e besta. Tomás não gostou nenhum pouco do que ouviu e leu a seu respeito, afinal, ele era um homem de bem. E foi lá se queixar pro amigo Oliveira, dizendo-se incapaz de suportar todo esse despejo de injúrias. Oliveira riu-lhe na cara; disse-lhe que não fosse tolo e agüentasse firme, acrescentando que os autores da palavrada não sentiam nada do que diziam, era a irritação própria da pretensão dos outros candidatos.
Se mentir faz bem pra Saúde, eu afirmo, com sotaque nordestino, que a história do Oliveira e seu amigo Tomás me foi contada por Machado de Assis num sarau realizado, se não me engano no ano de 1868, em sua casa do Cosme Velho, Rio de Janeiro, invoco até o testemunho de Joaquim Nabuco e do jovem Castro Alves, presentes ao evento.
Agora, um pouquinho de maldade fazendo duas perguntas que sei que não vão ofender:
Primeira: você que é um cidadão nordestino respeitado, que deve estar contente por ter um emprego e ganhar 400 reais por mês e que só não leva a família ao zoológico, sempre aos domingos, para dar pipoca aos macacos porque aqui não tem um, ainda acredita em promessa de canditado do partido Sua Excelência?
Segunda: Você, que não é nenhum alienado, sabedor da limitação de conhecimento e aquisição de bens de consumo, que a miséria impõe aos menos afortunados, desconhecendo muito deles a existência de grande parte da parafernália eletrônica em uso, sentiria firmeza em votar num candidato, que ao visitar uma favela miserável, solicitado por uma pobre mulher solução para o seu problema de saúde, mandou que lhe passasse um FAX?
Pois é, tais candidatos existem...