éter na idade

Se dermos aso a isso, corremos sempre o perigo de nos tornarmos escritores.

Se ser poeta é uma coisa pacífica, eu julgo-me o que quiser e se (não) quiser não digo a ninguém...

Ser escritor é um perigo, porque pode tornar-se uma necessidade e outra coisa não é, é uma necessidade de escrever.

Ser poeta é completamente diferente doutra coisa qualquer, ser poeta é ser Homem na mais completa acepção da palavra.

Um poeta não precisa de escrever, precisa de poesia, encontra-a. Sinto-me tão poeta a ler como a ouvir música, ou a olhar para uma pintura, comer, ou outra coisa qualquer.

A poesia é uma espécie de segunda natureza que é a nossa primeira natureza, a poesia é a descoberta que a nossa sensibilidade forma em nós uma linguagem própria.

Sou poeta a partir do momento que descubro que gosto, sinto, tenho necessidade das palavras e começo a trabalhá-las em Poesia. Esta é a definição prosaica de poeta: o que escreve Poesia, fazendo poesia.

Cuidado com a ideia de se ser escritor, um poeta a tempo inteiro é um perigo. Primeiro para ele mesmo, depois para a sociedade.

O perigo para ele é começar a viver no Mundo da Lua, para a sociedade será ter do aturar. Poder-se-á sempre dizer: - Há perigos que vêm por bem!?

Há algo de actividade onanista nesta coisa de escrever: satisfaço-me, posso satisfazer-me sozinho, da vontade de dizer... coisas.

Se por um lado encontro e_ter_na_ida_de... palavras, pois “a poesia é eterna enquanto dura”, por outro, pode não durar mais que um instante. Já o Mundo da Lua é viver no “éter da idade”...

Diziam os filósofos com aspas e sem aspas... que o espaço era preenchido pelo éter, andar preenchido pelo éter das palavras... deu para fazer esta crónica.

{Ontem a CV disse daqui a 40 anos quando estivermos velhinhos... Deixei passar, dizer OK: o quê? Toda a ficção se faz de pequenas coisas e, resumida é uma ideia, seja ela qual for.}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 20/02/2006
Código do texto: T114091