REMINISCÊNCIA
REMINISCÊNCIA
Eu ficava com medo de ficar sozinho na casa da vovó.
Era muito grande e estranho naquela residência.
Eu era pequenino!!!
Andando por aqueles corredores enooormes do casarão.
O guarda roupa preto, pesadão no canto do quarto da vovó parecia dizer: Guaaaarda-rooooupa!
A cômoda do final do corredor ficava como que dizendo:
Côooooomoda!
A canastra de peroba que ficava no quarto da tia Inês parecia cochichar:
Nãooooo mexe!!!
O vento soprando as cortinhas grossas até sobiava.
Ao sair do quarto da vovó, dava um frio na espinha da gente!
A máquina de costura envelhecida da vovó estava silenciosa,
Era só mexer com o pedal dela que já começava:
Pica-pano, pica-pano, pica-pano...
No oratório, bem no final do corredor, os santinhos sem cabeças, sem braços, outros descascados, pareciam ter morrido todos.
As nossas senhoras empoeiradas pareciam que estavam olhando
Para mim e fazendo um sinal de silêncio: pssssssssiii!!!
O rádio de pilha do vovô ficava estático, naquela sala enorme!
Mas se relasse em qualquer botão dele,
Já começava: zizizi zizizi, zizizi... Eu não entendia nada do que ele dizia.
Há! Eu tinha mesmo muito medo de ficar sozinho dentro da casa da vovó.
Até hoje me lembro do guaaaarda-roouuupa!
É isso aí!
Acácio Nunes