Páre de Inventar Desculpas Para Ser Feliz
Páre de Inventar Desculpas Para Não Ser Feliz
“A tua piscina está cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos...”
(Cazuza, O Tempo Não Pára)
Tem gente que não se acha mesmo: e nunca aprende. Vive bolando desculpas para ser infeliz de carteirinha, como se houvesse um “banquinho de infelizes” e ele estivesse ali procurando calma pra se coçar, querendo holofote, piedade, mas sair da inércia que é bom, nada. Como se trabalhar muito e estudar muito doesse, fizesse mal. É o seu caso? Páre de inventar desculpas esfarrapadas para ser infeliz! Ninguém merece isso. Vá a luta, saia cedo de casa, volte tarde, agite finais de semana (faça bicos), faça cursos nas férias, enfim, não use os sinais que a vida dá para você sair da inércia, pra você ficar alerta e correr atrás, para ficar aí sentado à beira do caminho, vendo os vitoriosos passarem, até porque nada cai do céu e nada nos é dado de mão beijada. Já pensou? Que qué isso, companheiro?
Origem pobre não é desculpa. Pais bravos também não. Deu tudo errado porque você “leu” errado os sinais de peregrinação? Santo Deus. O que você quer? Que um anjo com espada venha ameaçar cortar suas amarras burras, indicar o caminho do céu, se você mesmo sendo um milagre da vida não quis pelo seu próprio suor, trabalho, esforço, lágrima e sangue, ser também o milagre de um baita sucesso? Onde já se viu isso? O que você quer, não fazer nada, não ser nada, e ainda levitar?
Páre de procurar pêlo em ovo. Não se enxerga? Tem cabimento. E difícil mesmo. Nunca foi fácil pra ninguém, não seria pra você, cara pálida. Tem gente rica estudando, fazendo a terceira faculdade, para continuar rico ou não perder as coisas que conquistou, e você que na verdade não tem nada vai ficar fazendo o quê, querendo tudo “de grátis” sem nunca ter pensado sério sem sair da moleza e encarar a barra pesada de viver? O estresse, os olhos vermelhos, a bruta correria urbana de cada dia, o corpo cansado, as mãos com calos, tudo isso é sinal de GUERREIRO na Luta. O fracasso engorda, dá baixa estima, depressão, atrai coisa ruim e daí pra você ir pro bebeléu é só um passo. O que você queria, conquistas sem glória? Posses sem esforços, ajuda boba pra fazer de você um falso vencedor, um falso cidadão contribuinte?
Dormir o dia todo leva ao pesadelo do fracasso. Ficar acordado assistindo a infame e boba televisão só dá moleza. Comer e dormir é bom, pra pressão alta. Sair procurar emprego, caminhar, correr atrás não é com você, né não? Quem você pensa que é? Pra se chegar ao topo, levamos muitos tombos. É isso mesmo. Faz parte do jogo sedutor da evolução tropeçar para aprender técnicas de vôos. Para aprender, no amor e na dor, sofremos o crivo de cobranças, revides, destemperanças. Só os fortes de caráter vencem na vida. Os determinados é que deixam marcas. Os frouxos ficam estragando sofá em casa, esvaziando a geladeira (provida por terceiros), vivendo nas costas dos pais, da patroa, dos cunhados, dos sogros, dos amigos, dos filhos, dos que se propõem a bancar o abacaxi, pagar o pato, comendo de graça. Você não tem caráter, pelo jeito. O que você vai fazer de você? Páre de inventar desculpas por não querer parecer tolo, sendo tolo, não querer parecer um fracassado mas sendo sim, um mané, um coió, um embuste de cidadão. Você devia ter ralado mais, parafraseando a música Epitáfio.
Você não olha no espelho? Você não vê o exemplo daquele parente batalhador, guerreiro? Você não viu que horas aquele vencedor ia se deitar, que hora se levantava? Só ler não fazer de você um inteligente gratuito. Só se achar não vai fazer de você um filósofos de carteirinha. De que planeta você é, senjeito? Mire-se no exemplo dos vencedores. Se os seus pais não deram rumo, se a sociedade cobrou, se você não tem um bom trampo, a culpa é sua, ou você quer achar um culpado pro seu fracasso? Abra o olho, você não sacou ainda que está no bico do corvo? É bom quando você faz uma bela burrada, e alguém paga em seu lugar? É bom amarrar o burro na sombra – dos outros? E você, quando vai sacar que é uma piada, que riem de você, os credores, os devedores, os vizinhos e familiares, o que você pensa que logrou mas ficou no prejuízo? Quem você quer enganar? Sacou o perigo de ser um trouxa com panca? Cabelos brancos, murchos, envelhecendo, no entanto não tem nada, não é nada, vive nas costas dos que agüentam você, e o seu lucro com tudo o que você é, com tudo o que se restou, se você é um pária fora de contexto?
Quantos outros do seu meio, inclusive parentes de sangue venceram, e você levando numa boa, veio logrando todo mundo, agora, mãos vazias, tem que se esconder em coisas que a sua cabeça inventa, sem saber exatamente o que está falando, criando bobagens, tendo posturas mal concebidas, um xucro querendo tirar de letra o que não vivenciou direito para saber o que é? Pois é. Você se perdeu de existir, e agora perdeu de vez o bom senso, fica aí xereteando idéias, desse jeito vai acabar num hospício ou num asilo, vendo fantasmas do que só você acredita, do que só você vê, um desmiolado querendo crenças e verdades que soam grotesco de cabeça oca...
Pois é, você não sacou ainda, mas você não deu certo como gente, não deu certo como pessoa, não deu certo como profissional, não deu certo como cidadão, não deu certo como ser humano de juízo perfeito. Sim, você tem direito a desculpas, mas vá lá, arrume desculpas honestas (isso dói), não invente fantasmas, pra variar, a sentença final de sua vida não é um logro, é resultado de fato: você é zero! Não há lógica na sua frustração, na sua falência pessoal, pelo fato de você não ter posses, não ter nada, se você não ralou certo e direito pra ter, se ralou aqui e ali, foi variando soluções, querendo levar vantagem em tudo, foi logrado porque você talvez tenha sido mesmo o que você afinal se resultou: um zero a esquerda. Pirou de vez, é? Pare de inventar desculpas. Assuma riscos e erros. Arrume um carrinho de camelô e saia seis horas da manhã de casa, fique na rua até meia-noite vendendo seus docinhos, seus salgadinhos, talvez assim você possa, todo final do dia, prover seu lar, comprar o que a casa precisa, podendo assim, trabalhando de segunda a segunda, e de verdade, dizer que não tem desculpas, que errou feio, que tem que ser sim mesmo um vendedor ambulante até o final de seus dias na face da terra, porque antes errou de tudo, de todas as maneiras, e assim, trabalhando finalmente num serviço precário, pelo menos você finalmente vai segurar o rojão, bancar o pão em casa, prover o seu recanto que nunca proveu inteiramente e completo, e aí sim sair dessa toleima de querer ser o que não é, nunca foi, dando-se desculpas a céu aberto para bobices, mentiras, fugas, surtos. Parar de ser infeliz também. Trabalhar, estudar, ralar, é uma baita felicidade para o ser humano que quer, perfeitamente, fazer parte do acervo vitorioso da sociedade. Já pensou? Qual é a sua? Vai continuar se enganando. Você é ao mesmo tempo a melhor e a pior testemunha contra você mesmo. Sacou ou quer que eu faça um desenho com palavras cruzadas? Olhe pra trás. Olhe pra você. Se enxergue. Você é seqüela e fruto daquilo que você se fez. Você foi um risco pra você mesmo. Vai encarar? Curto e grosso: você fez tudo errado, desculpas não pagam dívidas, não apagam erros, não resgatam impropriedades. Cuidado, você pode estar com o nome sujo no SERASA do céu. Quem não paga dívida, quer o quê? Passar batido, virar santo, se matar? Há um Deus. Você não é lá essas coisa, em termos de imagem e semelhança do Criador. Você vale tudo isso que acha que vale, ou você perdeu as estribeiras, o bom senso, o juízo? A vida não vai parar pra você virar o jogo. O mundo não vai parar pra você descer, pular fora. E agora? Páre de se fingir de morto, de se achar num hora o tal e noutra hora um perdido e inconstante, que a verdade é irmã do tempo, e o melhor juiz é o tempo. Você é o que você se fez. E como você não soube se fazer, é melhor encostar em outro alguém de novo, né não, comer e beber e não saber o preço do suor certo, do sangue ralado, da dedicação corre. Ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem a verdade eu nada seria. E a verdade é que nenhuma desculpa bem bolada vai livrar você dos erros que fez, dos erros que cometeu, do próprio erro de ser o que é agora, nulo e perdedor. Quem não vê o próprio erro, o próprio limite, precisa de ajuda. Corra atrás, pode ser que ainda dê tempo, ou você acha que é infeliz sozinho?.
-0-
Silas Correa Leite
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.itarare.com.br/silas.htm