A VIDA É...COMO ELA É!

Aqui pela cidade que nunca pára, vez ou outra somos surpreendidos pela mudança dos cenários.

E frente à correria frenética dos grandes centros, pouco se percebe que entre as ruinas das demolições, ruem também algumas histórias, o que, confesso, me aperta deveras o coração.

E foi assim que ocorreu recentemente naquela esquina pela qual passo há anos, logo no início do dia.

Há mais de vinte anos ali erguia-se uma academia de natação, ancorada por um recém formado empreendedor.

Foi lá, que pude acompanhar todos os passos da construção, o entusiasmo com o qual os proprietários a ergueram, o bom gosto, a escolha dos materiais, o paisagismo, o recrutamento dos funcionários, e lembro-me claramente do primeiro professor que com carinho mergulhava minha filha nas piscinas, nos primórdios dos seus oito meses de vida, quando eu também dentro d'água, observava a adaptação de suas primeiras braçadas e as suas gargalhadas divertidas.

A escola nos era um ponto de referência, e lá ficamos por uns bons dez anos.Cresceu muito, e ainda hoje é uma empresa de esporte do bairro...porém num outro endereço, pouco adiante do antigo.

O prédio primo foi ao chão, demolido em poucos dias, para dar lugar à uma concessionária duma montadora multinacional.

Senti um nó na garganta ao olhar as ruinas...principalmente dos azulejos azuis e de seus peixinhos decorativos...

Saudosismo sem nexo, coisa de poeta, de gente que não tem o que pensar e fazer?

Talvez! Acho que sim. Afinal temos que ter o pé no chão e olhar a vida como ela é.

Comtemporizei.

Mas não tardou a me chegar um sinal: Não fui apenas eu que sentiu a tal da tristeza saudosista. Afinal uma demolição sempre nos é simbólica.

Dia desses, chegou até mim a notícia de que todos da empresa se comoveram com a demolição...das tantas histórias.

Quase uma deprê coletiva.

O aluguel daquele terreno ficou alto demais para o simples funcionamento duma escola de esportes.

Coisa da vida e do mundo moderno.

Hoje pela manhã vi os últimos preparativos para a venda dos carros de luxo.

Exatamente alí, aonde hoje vi uma máquina possante, ainda pude ouvir o barulhinho da água, o movimento do chapinhar de tantos pézinhos que acabavam de chegar a esse mundo, e lá faziam a sua festa!

Um mundo dos eternos versos de Caetano..."Da força da grana que constrói e destrói...coisas belas.

Eu só não sabia que essa força também põe abaixo os corações...