CRÔNICA DE ESPANHA

Como ir à Espanha com tantas notícias de rejeição? Assim mesmo, fui. Tive que ir. Tinha uma missão inadiável. Primeira viagem à Europa de tantas histórias. O Primeiro Mundo. Que expressão sem sentido. Por que primeiro?

Afinal, venci o oceano, meu medo maior. O marzão de lá de baixo me espreitando. E eu rezando. Enfrentando meus maiores pavores: altura, água e avião.

Acho inclusive sem sentido essa coisa de dizer que o avião é o transporte mais seguro do mundo.

Avião é algo incompreensível. Aquele bichão de toneladas, cheio de gente, de malas e de gasolina. Tudo aquilo voando a mais de dez mil pés de altura. Mas é bonito demais ver as nuvens e imaginar a inteligência e a coragem sem limites do homem enfrentando a natureza, imitando muito mal os pássaros, voando com as asas duras e motores funcionando.

Enfim, cheguei. E quando olhei de lá de cima, esperando o piloto dançar aquela valsa orgulhosa, mostrando aquele descampado, aquela terra estranha, totalmente diferente.

Quem não reconheceria o Rio de Janeiro de lá de cima, com o Cristo de braços abertos? Quem não reconheceria Brasília em seu mapa de avião aterrissado no Planalto Central?

Quem não identificaria São Paulo sob o nevoeiro da poluição? Quem não saberia que um presépio é Aracaju? E Recife?

Mas e aquele espaço perdido, parecendo Marte era Madri? Bom, se dizem, é. Desculpem, mas é decepcionante.

Meu Deus, para quem esperava ver algo iluminado como Paris. Poderia ser um engano do piloto, um pouso emergencial. Mas ali era mesmo o centro da Espanha.

Então seria aquele o lugar que estaria mandando os brasileiros retornarem para casa? Achei que deveria ser diferente, e que o brasileiro não gostaria de descer naquele campo de pouso de OVNIS.

Era Barajas, uma estação espacial funcionando automatizada, nervosa, apressada, grande. Levei dinheiro, bastante. Queria abrir a bolsa e exibir os euros, o cartão internacional, uma pasta de documentos de toda a espécie. O policial olhou o passaporte e me mandou entrar. Pensei que fosse para uma sala especial. Não, estava autorizada. Fez muito bem, dona Espanha. Somos também seus parentes.

Tudo na Espanha é grande. Mesmo sendo um país pouco maior que o Estado da Bahia, passa a impressão de ser maior que o Brasil.

Lá vai o trem. Lá vão os trens, os ônibus, os metrôs. Mais nervosa é Atocha. Pura desconfiança. A Espanha está toda riscada, grafitada. Saí de lá sem saber por qual motivo aquilo existe num país europeu.

O mais doce da Espanha é aquele show de monumentos, jardins, parques, igrejas, museus, palácios, castelos, chafarizes, Aranjuez, San Lorenzo de el Escorial. A beleza dos prédios seculares da Espanha excede qualquer capacidade de descrição. Melhor ir até lá. Isto é, se vocês tiverem a mesma sorte que eu de entrar sem problemas.

Aproveito para dizer à bela Espanha que amei ver o show do Flamenco e as touradas, uma paixão antiga que só havia visto nos filmes. Digo também que já estou no meu querido, sofrido, explorado Brasil, país que não trocaria por nenhum outro.