VENCEU O COELHO

Por ser a pátria amada idolatrada salve salve a nossa língua, é que estou aqui ocupando as mãos com a escrita e com os pés pisando em ovos. E haja preocupação com a grafia, concordância, estrangeirismo etc. etc. por concordar com o escritor português José Saramago, que disse: “ A língua é a nossa pátria, pobre e sofredora pátria, tão mal-ensinada, inflada grotescamente de estrangeirismos inúteis”. Naturalmente, ele estava se referindo a pátria dele, mas a carapuça nos cabe bem. Então, ai eu caio na real e digo cá para o meu zíper: como se isto fosse possível, partindo de um crânio de australopiteco como o meu.

Outras preocupações invadem-me, uma delas diz respeito a composição da árvore genealógica de minha família entregue aos meus cuidados. Não está havendo consenso entre os membros do clã no tocante aos nossos primeiros ancestrais, (exigiram uma árvore completa). Uma linha, que segue religiosamente a Bíblia, exige no topo da árvore a foto de um casal humano representando Adão e Eva. Uma outra vai buscar na antropologia física as origens do homem e exige foto de um casal de driopitecídeos ( da família dos antrapóides), por acreditar na evolução radiada e cita os depósitos miocênicos da África, que contém uma variedade ampla de antropóides fósseis. E enfatiza: todos tinham membros curtos e, evidentemente, não estavam especializados para a vida nas árvores.

A opinião da ala jovem ficou com a equipe da Universidade de Tel Aviv (Israel) e exigiu a foto de um coelho, haja vista esse animalzinho, segundo sugere estudo publicado na revista “Nature”, está evolutivamente mais próximo dos homens do que dos mamíferos roedores.

Para completar a confusão, eis que, de volta da Austrália, nos chega um primo em primeiro grau, e que lá se encontrava pesquisando para a sua tese de mestrado na área de educação física, a dimensão do pulo dos cangurus, trazendo na bagagem a teoria da equipe da Universidade Marquire, de que a vida na terra de originou em Marte. Motivo pelo qual, exige de nós, no topo da árvore, a foto de um microorganismo marciano, assemelhado ao nosso recém-descoberto hipertermófilo.

Ouvidas as partes interessadas, aceitos os seus argumentos, venceu o coelho, uma vez que, na família, quem manda mesmo são as crianças. Destarte, ficou determinado, que a foto no topo da árvore seria a de um coelho, representando o nosso primeiro ancestral, com um detalhe: por sugestão dos membros de apoio à teoria bíblica, esse coelho teria a sua história: viera do barro, recebera vida através de um sopro nas narinas e de uma costela sua surgido a sua companheira. Como a equipe da Universidade de Tel Aviv, comparou proteínas encontradas nos tecidos de coelhos e descobriu semelhança com as proteínas de macacos, satisfeitos ficaram os membros do clã, que seguem os ensinamentos extraídos da antropologia e por eles defendidos.

Quanto ao primo, pedi paciência até que sejam completados e compravadoss pela NASA, os estudos do material obtido através da sonda Mars Pathfinder, de que realmente a vida se originou em Marte e que chegamos aqui em forma de microrganismos, montados em fragmentos de rochas, percorrendo , sem desintegração, os duzentos e vinte e oito milhões de quilômetros que separam os planetas Terra/Marte.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 20/08/2008
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