Do balípodo tupiniquim
15/7/8
Desde os tempos de dente-de-leite, não sou grande entusiástico do tal futebol. Não apenas do futebol, mas de quaisquer jogos, genericamente.
O jogo é um vício que eu não tenho, felizmente. Já os demais, coleciono um ou outro.
Porém, da mesma forma que, mesmo sem grande empolgação, juntava-me aos demais pirralhos para horas ininterruptas de jogatina revezando-se em jogos do ATARI (afinal de contas, essa coisa de salvar a fase e continuar depois veio somente alguns anos mais tarde), algumas vezes (raríssimas vezes) algum cidadão me convence a assistir uma partida de balípodo, in loco.
Mas nas poucas vezes que freqüentei jogos em estádios, como definitivamente não me empolgo com toda a correria da rapaziada em campo, tentei sempre focar somente no essencial, que é, por óbvio, a cerveja.
Mas o triste é que dentro dum estádio acaba-se não fazendo nem uma coisa nem outra: O beber e conversar atrapalha o jogo, e o jogo atrapalha o beber e conversar.
De qualquer forma, ao menos por aqui, seguindo a nova política do “não se divirta”, a cerveja foi banida dos estádios, e o único argumento que me fazia ir a jogos caiu por terra.
Quanto às minhas crenças futebolísticas, sou coxa-branca, não ortodoxo, não praticante. Por parte de pai.
Portanto, nunca entendi muito bem a tal magia do ludopédio brasileiro.
Afinal, por aqui este esporte é praticamente exclusivo, responsável por pelo menos noventa por cento do conteúdo de aulas de educação física, programas esportivos, cadernos de esportes, ou qualquer coisa relacionada a “esporte”.
Claro, entendo que um pouco do brilho venha do fato de termos os melhores jogadores do mundo, afinal de contas, no Brasil todas as crianças tentam entrar para este ramo, ao menos em algum momento da vida. E como não poderia deixar de acontecer, de milhares de candidatos, alguns acabam mostrando-se jogadores-natos.
Porém, certamente isso teria acontecido com qualquer outro esporte que porventura pudesse ter sido escolhido como paixão nacional.
Explico: Se todas as crianças brasileiras sonhassem em virar jogadoras de pelota basca, por exemplo, acredito que, no frigir dos ovos, daria tudo na mesma. Em pouco tempo ter-se-ia aqui os melhores peloteiros bascos (???) do mundo. Desde que se fanatize a coisa, claro.
Logo, cabe aqui pergunta: Então, porque diabos o escolhido foi o futebol?
Há quem diga que é pela facilidade de se jogar em qualquer lugar, desde que se tenha quatro tijolos (que podem ser substituídos por chinelos) e algumas meias velhas, tornando-se assim, um esporte altamente democrático.
Mas isso é tudo balela. Uma explicação bonita, mas que não passa de conversa fiada.
Tantos outros esportes precisam a mesma pouca estrutura para a prática, e alguns até menos ainda.
Assim, só me resta crer que o futebol foi escolhido como paixão nacional por um simples motivo: Porque é o esporte mais corruptível que temos.
Embora a última frase possa ter soado tanto quanto ardida aos espíritos mais entusiastas e apaixonados, ela tem a sua lógica.
Afinal, além de o futebol ter se tornado um grande negócio, é um esporte que não tem tempo de duração fixo, onde apenas um gol pode decidir o jogo, onde um pequeno deslize de apenas um jogador pode mudar o rumo de tudo, onde abundam regras que dão carta branca ao juiz para as mais curiosas interpretações (marcar impedimento, fazer voltar um pênalti, etc.), além das bizarrices standard, como a decisão do jogo por pênaltis ou a morte súbita...
Sinceramente, não conheço nenhum outro esporte coletivo onde as possibilidades de manipulação de resultados sejam mais favoráveis.
Assim, só posso concluir que, realmente, o futebol não é apenas mais um jogo.
O futebol é apenas mais um circo.
Agora, só resta saber de qual lado estão os palhaços...