Metamorfose
Não sou mais o mesmo. Mudei, transmutei, ultrapassei limites, antes montanhas intransponíveis. Voei, abri as asas em direção a um novo horizonte. Fui ao mais alto grau do Universo, vi o Sol, mergulhei, brilhei, queimei como a Fênix, renasci da cinzas.
Como a lagarta que vira borboleta, saí do casulo. Passei pela ponte do real e do insano, conheci a verdade olhando no espelho de minha alma. Os olhos azuis e os cabelos louros, como um anjo que desceu dos céus. Puro de coração, rosto angelical. Por dentro, um coração que queima, arde, inflama com toda sua força, fazendo meu corpo incandescer; as asas se abrem flamejantes, os cabelos crescem como as chamas. Mergulhei em um mundo quente, fervo, enlouqueço. Com uma mudança brusca, mergulho no profundo ocenao gélido, agora o corpo não mais quente, e sim a temperatura da frieza, que é meu racional.
As asas quebram-se como vidro, os cabelos perdem o brilho, os olhos profundos agora são mistério. O coração não mais abrasa o corpo.
Uma flecha, é o que vejo. Cravada no peito, atravessa até o outro lado. Caio, meio ao gélido oceano. Pesadelo? Realidade?
Não sei, sou insano, estou insano. Com um baque, volto frente a um portão. Abro-o. Uma sala arredondada, iluminada por velas e um tapete circular vinho com emblemas orientais. Calmamente, cada passo que dou é direto e leve. Paro no centro, olho, giro, rodopio. Desço ao mais baixo nível que a sala permite. O tapete derrete-se, tinge as paredes e os emblemas desaparecem. De repente, você.
Olho, encaro, fito, flerto.
Paixão, fervor, ardor, quentura. Vou ao seu encontro, beijo, envolvo teu corpo no meu. Vinho é nossa união. Testemunham as paredes que observam, aprovando com certo espanto.
Adormeço. Acordo, normal, real.
Tudo que passei foi devaneio, imagem, sonho, quadro, filme. Só recordo-me do anjo que fui, do calor e do frio de meu corpo, da profundidade de meus olhos e do mergulho em minha alma.
Nada.
Insano, louco, viajante, lunático.
Mais nada.