UM SONHO RUIM
Sonhei que caminhava nas ruas da minha cidade, tudo estava deserto e ao virar uma esquina, de repente, uma extrema coincidência: duas quadrilhas concorrentes anunciam um assalto. Uma à esquerda e outra à direita. Percebi que havia diferenças entre os membros meliantes das quadrilhas, diferenças intelectuais, sociais e, inclusive, diferença no modus operandi dos marginais, mas na realidade não passavam de duas quadrilhas perigosas. Os bandidos trocam olhares, conversavam nervosamente, discutiam. Eu ali no meio deles. Quem vai me assaltar? Qual das duas gangues? Ouvia a conversa daqueles salteadores, uns diziam que poderiam decidir isso na bala com um poderoso exército, mas numa manobra inteligente resolveram pedir que eu escolhesse por quem desejaria ser assaltado. Jogaram a responsabilidade para mim. Eles combinaram que aquela quadrilha escolhida terá o direito exclusivo de me roubar durante quatro anos. Tentei fugir, mas não deixaram. Não teve jeito, eles armaram um esquema tão forte que se eu não escolhesse eles conseguiriam uma maneira de outros escolherem por mim.
O jeito então foi pensar. Analisar qual das duas quadrilhas me roubariam menos, quem seria menos agressivo e menos sufocante. Foi um momento muito angustiante, até que acordei assustado, suado e ofegante.
Que situação constrangedora, né verdade? Imagina, escolher quem vai nos roubar?
Mas felizmente essa é uma situação hipotética, apenas um pesadelo que não queremos nem lembrar. Ora, na vida real já é muito difícil sermos assaltados, concorda? Quanto mais coincidir duas quadrilhas ao mesmo tempo. E esse negócio de escolher os ladrões? Dar-lhes o direito de nos roubar por quatro longos anos? Não, isso não existe!
Foi só um sonho. Um sonho ruim.