A VARA DE FABIANA

Fabiana Murer sentiu no oriente a sensação de abandono e de falta de solidariedade, quando procurou sua vara que serve de base à impulsão para o salto que desenvolve nas olimpíadas e não a encontrou. É curioso que uma Olimpíada rodeada de tanta organização e de tanta segurança possa dar vasão ao sumiço de um instrumento de disputa olímpica em pleno desenvolvimento da modalidade. Isso soa sabotagem, embora ninguém possa provar essa possibilidade. Ela diz que sua vara não podia estar no local em que os organizadores reservaram para a guarda desse instrumento, porque ali já haviam sido depositadas outras dez varas de outras competidoras (estando esgotado o espaço físico) e então ela ficou com um tubo individual que inclusive tinha proteção com cadeado (ou chave), mas, misteriosamente, a vara sumiu num passe de mágica.

Explica a atleta que tentou realizar o salto com uma vara de outra envergadura, ou seja, mais pesada e própria para um pulo mais alto, mas, como era de se esperar, não obteve sucesso na tentativa, primeiro porque o episódio havia abalado sua concentração e segundo porque a vara que teve de utilizar era de um limite que certamente não precisaria utilizar - caso fosse evoluindo na competição - por ser uma marca aquém do alcance mundial feminino.

Esse drama levou a atleta a demonstrar visível insatisfação com os chineses responsáveis pela organização nessa modalidade esportiva, além de se sentir isolada e naufragada numa ilha de incertezas, considerando que as outras competidoras se mostraram indiferentes com o seu drama, até porque era uma adversária em potencial e essa mácula no seu estado psíquico tornou-se um antídoto contra a boa performance. Assim, a nossa competidora se viu num mundo de ninguém com pessoas de outro mundo.

Nenhum ser humano, por mais maldoso que possa se apresentar, deve se sentir dessa forma, pois sempre há alguém do seu lado prestando auxílio. Fabiana nesse instante só contava com seu técnico e nada mais. Tudo o que girava em torno de si eram dragões soltando fogo pela narinas e desejando que fosse empurrada para o fundo do poço.

Evidente que a tal vara não poderia ter sumido sem que alguém, com prévia intenção de lhe prejudicar, fosse o pivô da ação clandestina que lhe retirou o instrumento que lhe poderia render as glórias. Agora, depois de tudo, fica aquela lacuna que ela própria e os brasileiros irão conservar dentro de si, ou seja, de que poderia ter feito muito mais e até ser uma outra heroína naquela terra do Oriente. No entanto, ficou aquela sensação do gosto da fruta que não podemos comer porque alguém, furtivamente, levou-a pra longe de nossas posses.

Podemos, então, dentro de nossa concepção de leigos e em face da distância dos fatos, apenas lamentar o episódio e transmitirmos solidariedade à Fabiana Murer para que não esmoreça diante dos fatos, pois, certamente, nós brasileiros não deixaremos de ter orgulho por tudo que ela já demonstrou para nós em outras competições.

O sentimento de Justiça impera sobre as massas. Contudo, não devemos nos revoltar com a simples idéia de uma injustiça, que pode ser um simples ensejo de evolução. O comportamento humano e as leis humanas ainda são um pálido reflexo da atividades deturpadas da raça humana, mas não devemos esquecer que a paciência é a melhor das virtudes, primeiro porque ela ajuda na sincronia do nosso organismo e não o sobrecarrega de fluídos negativos e segundo porque a verdade pode vir à tona e demonstrar o verdadeiro semblante daquela alma penada que prefere alcançar seus objetivos com o prejuízo alheio.

Enfim, ao retirarem da Fabiana Murer sua vara de proteção para seu salto para as alturas, não conseguiram lhe tirar a vara que a impulsiona a ser grande como pessoa e como atleta honrada. Ficará nela uma mancha da decepção, certamente, mas ao mesmo tempo esse pequeno sinal que ficará impregnado na sua alma também lhe servirá de alerta para que sempre fique atenta com a maldade humana e que saiba discernir entre o bem e o mal, para que também seja uma vencedora nas relações humanas.

São esses meus desejos e minha solidariedade à família dessa atleta que foi usurpada no seu direito de alcançar uma medalha para o Brasil.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 18/08/2008
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