...NÃO SE PREOCUPE COM O QUE SE PASSA EM MINHA CABEÇA...

E, de repente, ela não sentiu mais vontade de escrever, disse que não tinha mais assunto a abordar e que estava entediada com a vida que acontecia fora do seu corpo. O tédio, pensava ela, era um veneno que agia lentamente obstruindo a alegria e o pensar. Ainda assim ela sorria e me fornecia os melhores diálogos que eu encontrava naquelas noites de falsa primavera. De repente, ela não tinha mais vontade de sair da sua casa, disse que já havia feito todas as bobagens que o seu corpo poderia aguentar, e que a vida iluminada agora doía nos seus ombros frágeis de quem nunca se preocupou com a vaidade. Ainda assim ela me distraia com suas músicas estranhas que cantavam sobre amores apodrecidos com melodias vibrantes, inspiradas no bailar dos dançarinos flamencos. De repente, ela deixou a arte de lado, disse que precisava trabalhar e que a vida era sim, alimentada pelo dinheiro e que ela precisava de conseguir muita grana para saber o que era definitivamente o sucesso. Ainda assim, ela me mostrava alguns desenhos que fazia nos horários de folga, e as cores que usava eram alegres e não tinham nada que lembrasse o universo em que tinha se infiltrado. De repente, ela desapareceu por conta de uma promoção e nunca mais deixou notícias de onde anda, ou o que anda fazendo de sua vida tão rica. Ainda assim, guardo comigo uma fita K7 (que hoje reproduzi em CD) com uma seleção das canções que ela mais gostava, juntamente com um desenho que ela me deixou num aniversário e que agora enfeita a parede do meu quarto. De repente, percebo que a saudade é algo que ainda não aprendi muito bem a suportar, talvez amanhã o dia não amanheça tão quente e eu saiba melhor o que fazer para deixar o passado se perder dentro da memória tão viva. Ainda assim, espero que ela apareça um dia.

"...let's spend the night together

now i need you more than ever..." ROLLING STONES