O ASSALTO

Eu me lembro muito bem. Era uma manhã de garoa do mês de junho, quando naquela época eu ocupava o cargo de gerente administrativo e financeiro do Educandário Cenecista de Paripe, sob intervenção da diretoria estadual da CNEC.

Naquela manhã, logo cedo, na tesouraria do Colégio, recebi um telefonema da casa do colega Marcos, avisando-me que ele estava impossibilitado de trabalhar, pois estava acamado, com o corpo mole, bastante gripado e com febre. Era esse rapaz quem me auxiliava nos serviços de tesouraria. Esse funcionário era quem fazia os pagamentos das despesas do colégio, depósitos bancários, fechamento de caixa, etc.

Como não dispusesse de nenhum funcionário do Colégio, naquele dia, para executar as tarefas bancárias, eu mesmo tomei a decisão de executá-las.

Organizei as diversas contas de despesas com os respectivos cheques para serem quitados, depois retirei do cofre da escola a quantia de R$l5.000,00 para depósito em conta-corrente no banco Bradesco, na agência Piedade e coloquei-os dentro da minha pasta.

Chegando a histórica praça da Piedade - local em que foram enforcados os líderes da “Conjuração dos Alfaiates” -, dirigi-me à agência bancária que se localizava em frente à praça (Piedade). Encontrei-a fechada, por ser cedo para atendimento ao público. Então, para aguardar o horário de atendimento, fui fazer um lanche, em uma pastelaria que ficava ao lado da agência bancária.

Chegando o horário de atendimento, adentrei na agência bancária com uma certa quantidade razoável de clientes - nesse tempo as agências bancárias não tinham porta giratória com detectores de metais - e me posicionei em uma das filas que tinha umas nove pessoas, – nessa época não existia fila única, cada caixa tinha a sua própria fila. A minha frente se encontra uma senhora branca, corpulenta, de cabelos ruivos acima dos ombros e trajava um vestido estampado amarelo.

Passado uns cinco minuto em que eu me encontrava no interior da agência bancária ouvir duas ou três vozes masculinas dizerem em um tom bem alto:

- É um assalto pessoal! É um assalto pessoal! Todos deitados no chão! Deitados de bruços! Vamos todos! Vamos logo! Vamos logo! Ligeiro!... Ligeiro!... Rosto no piso! Não olhem para os lados! Para vocês não morrem!... Não façam movimentos. Entenderam! Entenderam!

Num relance de olhar muito rápido percebi apenas dois assaltantes, com armas em punho apontadas para nós clientes, com o rosto coberto por tocas de tecidos finos.

Graças a Deus todos obedecemos às ordens dos assaltantes. Deitei-me de bruços no piso gelado, os meus dentes começaram a tremer, um batendo no outro sem parar, feito britadeira quando está escavando o asfalto e, comecei a sentir uma agonia fria na espinha dorsal. A senhora de vestido amarelo que estava deitada a minha frente de bruços, as pernas dela tremiam, como diz o ditado popular: “tremiam feito vara verde”. Ela deu uns três puns baixos e começou a urinar em quantidade. A sua urina quente tinha um odor insuportável e veio logo em direção ao meu rosto, aos meus lábios, ensopando toda a minha camisa e a minha bonita pasta de executivo. Foi horrível aquele momento. Parecia um momento de tortura que não teria mais fim. Não se podia dizer nada. Eu tinha mesmo era que tremer de medo. Caso levantasse a cabeça receberia uma bala dos assaltantes. Infelizmente tive que suportar toda aquela mijarada no rosto como um objeto sem vida, por questão de vida ou morte.

Cerca de dez a quinze minutos, que parecia uma eternidade, para mim, a duração do assalto, ouvi tiros e o soar das sirenes das viaturas de polícia, avisando-nos que estavam chegando. Quando a policia chegou. Alguns policiais falaram em tom alto:

- Polícia! Polícia! Todos de pé!

Obedecemos ao comando de vozes dos policiais e ficamos todos em pé aliviados da tensão provocada pelo impacto do assalto. E naquele momento a senhora que estava a minha frente ficou em pé e desmaiou, a coitada estava toda mijada e com um forte mau cheiro de fezes. Logo, a polícia tratou de socorrer a essa coitada senhora. Graças a Deus ficamos felizes e ninguém ficou ferido.

Publicado:

Seleta de Crônica - Minha Rua, Minha Gente - Edição Especial 2009.

EVERALDO CERQUEIRA
Enviado por EVERALDO CERQUEIRA em 17/08/2008
Reeditado em 10/05/2009
Código do texto: T1132618