O Brasil é ouro! Não: é prata! Não; é esperança...
 
            Viva o espírito Olímpico, assim com o natalino que todo o ano nos estimula às compras e vem o Papai Noel fomentando o uso indiscriminado do cartão de crédito e o endividamento que nos atola por pelo menos um ano. Que se escancare a débil face nacional de não investir em esporte e esperar por medalhas que chegam miúdas e tímidas como o terceiro lugar que se chamou de bronze e poderia ser de lata ou ferro que tanto faz, melhor mesmo seria se fosse de alumínio que tem um belo brilho e não enferruja. Ficamos esperando uma chuva de medalhas visto jornais, tv e revista venderem um sucesso que é dos outros.
            Chineses e americanos ganham tantas medalhas que não dá tempo nem de comemorar. Caso o povo daqueles países fique com os olhos vidrados na tela, não poderão piscar ou perderão a chance de ver mais um ouro, prata ou bronze subir nas suas fileiras intermináveis de conquistas que são merecidas já que quem investe em esporte tem o retorno devido e necessário.
            Fiquei essa semana acompanhando futebol (Camarões errou de esporte e se investisse em luta greco-romana teria maiores chances – vá bater assim na Costa do Marfim), vôlei de praia, natação, judô e handbol (por que não naturalizar e chamar logo de Mão-na-bola: mania de importar e manter em embalagem estrangeira o que vem de fora!) e a única vibração definitiva de lavar a alma e descer lágrimas de cachoeira veio de um menino cheio de músculos com cara de alemão chamado César Cielo que foi mais rápido que os mais rápidos do mundo tendo nós a sorte do Peixe-Phelps não ter caído naquela piscina e detonado mais uma. Disse uma das minhas filhas: que irritante esse PP: alguém jogue uma pedra na frente dele! Precisaria de ser um torpedo arrematei – o terceiro-quarto mundo do esporte tem bom-humor que nos salva de rir de nós mesmos.
            Lembro assim de um episódio dos quadrinhos do Asterix (coisa de gente boa de neurônios) em que toda a aldeia (se não conhece a história dançou...) vai à Grecia torcer pelos bárbaros. Foram impedidos de usar a poção mágica que lhes dava força sobrenatural (o que hoje é banal) e assim somente ganharam medalha na luta graças ao Obelix (falei para ler) enquanto os gregos se enchiam de medalhas deixando algumas aos romanos (puro revanchismo). Mas o que vale é a comparação: nós somos a pequena aldeia gaulesa tentando vencer o primeiro mundo e, vez por outra, aparece um Obelix (Cielo) derrotando os tubarões e vingando nossa herança.
            Não chores por mim Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e segue a lista com todos do nosso continente e de outros que pouco investem no esporte e que colhem esperanças poucas...
            Falando em esperança, antes que morra, parece que somos o país do futebol (será que o masculino trás a primeira de ouro? Corra Marta, corra...), da praia (e uma dupla feminina já foi antes do fechamento desta) e do mar (vai vela e nos traga mais um ouro). Já vi que vai ter gente falando e o vôlei de quadra? Tomara, gente, tomara. Só sei que quando era menino via o brasileiro nas pistas de atletismo liderar a prova e caía para terceiro, para quinto e chegavam todos quando lá, em oitavo, vinha a esperança...