A velha dama e eu.


              
      Quando conheci Miss Marple sonhava em ser como ela quando envelhecesse. Era uma de minhas fantasias favoritas. Mas por mais que liberasse a imaginação não conseguia transformar a pequena cidade onde nasci em um charmoso vilarejo inglês.  Também ali nada de interessante acontecia. Apesar disso vivia inventando histórias mentalmente que nunca consegui passar para o papel. Nunca fui boa nessa coisa de criar mistérios, mas adorava ler e tentar descobri-los antes do final. Acredito que tenha comprado e lido todos os livros de Agatha Christie e ainda os tenho. Penso, mas não tão seriamente, em seguir os passos de meu amigo Fernando Brandi e montar um sebo virtual para desocupar espaço em minhas prateleiras, mas me dá calafrios imaginar a minha vida sem meus velhos livros, companheiros de juventude. Faz tempo que não os leio, mas a leitura da biografia da velha dama inglesa escrita por Rosa Montero me fez sentir saudades e se não tivesse tanto outros livros enfileirados esperando por uma primeira leitura certamente eu os iria reler, com o mesmo prazer.

 

       Agatha Christie é a primeira das quinze mulheres que Rosa Montero retrata em seu livro Histórias de Mulheres. Ela começa assim: “Agatha Christie quase nunca está rindo abertamente em suas fotos: tinha dentes ruins e sempre foi muito consciente de sua aparência”. Esta frase despertou em mim uma grande ternura por ela porque pude compreendê-la. Também passei por esse problema: vítima de um charlatão acabei perdendo dentes e morando praticamente na roça o que conseguiram fazer por mim foi uma coisa tão horrorosa que me constrange até falar dela. O que sei é que quando eu ria do jeito que gosto de rir apareciam dois ganchinhos metálicos  semelhantes aos aparelhos corretivos de hoje e usados até com certo charme. Por essa razão eu evitava rir. Só quando vim para Lavras e conheci as maravilhas da odontologia moderna pude voltar a fazê-lo e hoje pode se dizer que sou uma mulher risonha.

 

       Agatha Christie usou também para escrever um pseudônimo: Mary Westmacott. Nunca tive vontade de lê-los porque imaginava que não fossem bons. Parece que não são mesmo, mas descubro agora que Mrs. Christie os considerava como sua melhor produção. Eu achava muito esquisito (e, ainda acho)  alguém usar um nome falso para escrever. Se faço algo de que me orgulho quero ver o meu nome estampado nele. Acho que o nome que temos é muito importante. Tenho orgulho do meu e um dia desses fiquei bastante incomodada porque alguém se aproximou de mim e disse: Você é a Maria Olímpia? Minha irmã tem esse nome e o odeia. Ela prefere ser chamada de Lia. Posso garantir que o papo parou ali porque me senti extremamente ofendida.

       Um de meus hábitos é pesquisar na net sobre os assuntos que leio em livros ou jornais. É mais fácil e rápido. Assim é que procurei ler sobre Agatha  Christie. Encontrei um site delicioso: http://acbr.luky.com.br , inclusive com fundo musical e gravação das músicas que ela cita  ou têm a ver com suas  histórias. Mas não encontrei nada de novo.  Em um site de frases ela fala sobre a conveniência de ter se casado com um arqueólogo: quanto mais velha ela ficava mais ele se interessava por ela. E olha que ele era quinze anos mais novo.Quando se casaram tinham respectivamente 25 e 40 anos. Vou por anúncio classificado em jornal procurando um assim pra mim. Um arqueólogo deve ser realmente o companheiro ideal para uma mulher.

        O texto de Rosa Montero sobre Agatha é delicioso. Faz reflexões pertinentes sobre quem era realmente essa mulher e o mito que se criou em torno dela. Defeitos e qualidades são colocados de tal forma que a visão que temos  se torna profundamente humana e real. Parece que ela está ali, ao alcance de nossas mãos. Mas não devo falar sobre isso, em detalhes. Afinal, posso ser acusada de plágio e impedir que conheçam esse livro fascinante que é Histórias de Mulheres.